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domingo, 12 de julho de 2015

A Lenda do Oleiro.

Escrevi esta história aos 14 anos, tempos depois soube que há algumas passagens Bíblicas que se referem ao mesmo tema. Mesmo não sendo tão original, gosto da força que ela transmite.



Há centenas de anos, quando o homem ainda vivia com simplicidade, havia um oleiro que se fizera famoso.

Naquela época, as principais profissões nas pequenas cidades e vilarejos eram a do ferreiro, a do curtidor, a do carpinteiro e a do pedreiro e a do oleiro.

O Ferreiro fabricava as ferramentas, as armas e os eixos dos carros de boi além das ferraduras dos cavalos. 

O Carpinteiro fazia os móveis das casas, os telhados, os carros de boi e os andaimes de construção.

O Curtidor, preparava o couro que seria usado nas camas, nas roupas, nos calçados, e nas sacolas para transportar mercadorias.

O Oleiro, esse era um artista, ele fazia os pratos, os copos, os vasos, os potes, tudo que era de comer era guardado nos potes, sementes, frutas secas, carnes salgadas, sebo, óleo de lamparina e também a água, castiçais, e ornamentos pintados para as mulheres. Potes pequenos para guardar os temperos, e grandes para enterrar os mortos. Toda a riqueza que o homem tinha naquele tempo, passava pelas obras do oleiro.

E este oleiro era especial, fazia peças bonitas, leves e resistentes, sabia a arte de decorar suas peças que além de ser úteis deixavam belas as casas onde eram usadas.Nas suas peças o oleiro pintava histórias, pedia aos Deuses que protegessem aquele alimento, ou assustava os demônios para que fugissem apavorados.




Um dia o oleiro decidiu que criaria sua mais bela obra, seria sua última criação, um vaso perfeito. Buscou o barro mais puro e claro, foi atrás da madeira que queimasse mais forte para que seu cozimento fosse perfeito, Comprou óleo fino para preparar as tintas com que iria pintar sua obra, pigmentos raros de cores intensas e harmoniosas, Viajou muito para encontrar as pedras mais perfeitas e preciosas para decorar sua obra. Comprou finíssimos fios de ouro com os que produziu uma filigrana perfeita para o acabamento.

Reunidos todos os materiais, o artesão pois mãos à obra, tendo somente amor no coração e um imenso desejo de que sua obra fosse perfeita, bela e admirada, pôs-se a trabalhar com cuidado, dedicação e amor.

Finalmente depois de muito amassar o barro para que tivesse a consistência perfeita, de moldá-lo com cuidado para que fosse prático, forte e belo. Depois de assá-lo no fogo mais forte para que fosse resistente e ao mesmo tempo delicado, começou o delicado trabalho de transformar seu vaso em uma obra perfeita. Escolheu as jóias uma por uma colocando nos lugares certos, depois com as tintas preciosamente preparadas pintou cuidadosamente sua obra, de forma a destacar ainda mais o valor das jóias e finalmente acabou aplicando a suave filigrana de ouro para dar-lhe brilho e destaque.

Finalizada a obra, viu o mestre com lágrimas nos olhos que havia concretizado seu sonho, que enfim havia criado o vaso perfeito. Neste exato momento, seu filho se aproxima, vê a peça com descaso, toma dela sem cuidado, e sem dar-lhe valor algum deixa que se caia esfacelando a obra do pai.

Nem bem terminou de fazer isso, o jovem filho ainda olha suplicante para o pai e diz, pai eu te amo. Com lágrimas nos olhos o artesão abraça o filho com um sorriso, aparentemente sem lamentar o vaso perdido...

Talvez você leitor agora se pergunte: Como assim? Qual a moral dessa história? Que coisa ridícula?

Mas aí te pergunto leitor: Deus escolheu o melhor dos barros para te criar, um vaso perfeito destinado a conter toda a felicidade e amor que ele também criou, amassou-te cuidadosamente nas leis do espírito para que nenhuma impureza restasse na tua constituição, assou-te no fogo das dificuldades para que ganhasses a resistência da sabedoria e a leveza da humildade, cravejou-te de virtudes e ainda pintou-te com exemplos para que soubesses brilhar melhor com elas, e ainda deu-te o brilho da filigrana do amor dele por ti.

E passas o dia a dizer que não eres capaz, que não consegues, que não sabes, que não tens talento, que não podes, que te faltam forças... E desta forma, tomas o que o Criador fez com amor dedicação e perfeição e por não ser grato pela tua inteligência, pela tua força, pela tua paciência, pela tua perseverança, pela tua generosidade, pela tua coragem; arremessas o vaso ao chão e passas a viver dos cacos que então são tristezas, mágoas, rancores, medos... Mas mesmo assim, basta uma palavra de Fé e o Pai, o Artesão em lágrimas, volta a ver em ti o vaso que com tanto amor ele criou...


Que neste dia possas ver-te como Deus te vê.

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