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domingo, 30 de agosto de 2015

Cães e espiritualidade: idas e vindas...

Sempre hesitei publicar esta história pois ela se refere a um relacionamento anterior, e sei que falar de passado deixa o presente pouco à vontade. Mas recentemente dois bons amigos perderam dois grandes companheiros para a espiritualidade e meu amor também ficou sem uma amiguinha espevitada e sinto que eles merecem a esperança que esta história pode trazer...

Foi em  2002; já estávamos juntos há quase um ano e resolvi então dar um presente especial. Um conhecido coincidentemente me comentou que a mãe dele estava enlouquecida com oito filhotes na garagem de casa, mas como eles não tinham pedigree (a mãe era pura, mas o pai mestiço), ninguém queria.

Nunca escolhi pelo pedigree, nem animais nem pessoas, assim que resolvi ir fazer uma visita pra ver se algum dos filhotes me escolhia; minha única certeza: queria fêmeas, os machos protegem a casa as fêmeas protegem o dono ( mesmo no mundo animal as mulheres são sempre mais inteligentes ).

Duas me escolheram de uma forma que não pude ficar com uma só, e assim no Natal de 2002 elas chegaram a nossas vidas, 75% Labrador 25% de melhoria racial elas eram pura encrenca e pura fofura. Nada resistia à sua inteligência e à sua curiosidade, destruíam tudo que estivesse a seu alcance. Receberam os nomes de Telma (a amarela) e Louise (a branca).

Para onde nos mudássemos elas sempre animadas no portão eram as primeiras a conquistar os vizinhos, quando saíamos passear com elas, todos vinham conversar conosco para brincar com nossas divas. Nunca tiveram um treinamento formal, mas nem precisava, eram inteligentes, sabiam quando podiam entrar, e quando não, ao abrir o portão ficavam paradas aguardando o chamado, mas não saiam sem autorização. Louise aprendeu até a sorrir pra nós. Eram puro charme, elegância, companheirismo e amizade. 

Uma capacidade de perceber as energias ruins emitidas pelas pessoas, elas jamais latiam para estranhos que entrassem acompanhados por nós em casa, a menos que eles estivessem espiritualmente mal acompanhados, ou estivessem em casa mal intencionados. Muitos sensitivos nos falaram da proteção que elas nos davam.

Mas toda essa alegria um dia teve uma interrupção. Louise caiu da escada, imediatamente começou a andar sobre três patas encolhendo a mão esquerda. Levamos a um veterinário e foi constatada o que pareceu uma fratura próxima ao ombro.  Infelizmente diagnóstico errado, na verdade ela caiu porque o osso deixara de existir, consumido pelo câncer, silencioso, e que já naquele momento era irreversível. Semanas tentando alguma solução até que a veterinária nos comunicou que ela estava em sofrimento irreversível, prolongar seu sofrimento seria tortura. Foi uma decisão difícil e dolorosa, mas ficamos ao lado dela até seu último suspiro, Curioso é que tão logo ela deixou de respirar, dentro daquela salinha pequena e toda fechada, todos os cães da clínica e do pet-shop ao lado começaram a uivar ao mesmo tempo. Eu queria poder uivar minha dor também, mas só dolorosas lágrimas escorriam pelo meu rosto, aquelas silenciosas que só as saudades mais bem construídas são capazes de gerar. Partimos com seu corpo sem vida que não tivemos coragem de descartar, foi enterrada no fundo do quintal de casa.  

Um fato assustador é que quando colocávamos Louise no carro para levar à clínica, Telma deitou-se e começou a lamentar de uma forma que nunca havíamos visto, aproximamos uma da outra e permitimos que se despedissem. Telma, parecendo adivinhar, silenciou e silenciosa ficou por dias, nada a fazia latir ou abanar o rabo.

Nós dois trabalhando muito, passando muito tempo fora de casa e nossa Telma com isso sentindo a tristeza profunda da solidão, sem ter como enterrar suas saudades em outras atividades como nós.

Dois meses depois da partida da Louise, em outra cidade, na casa de uma amiga, uma certa fêmea Golden Retiever resolveu deixar-se seduzir e facilitar (abaixar) para um Cocker Spaniel Dourado. Dessa esdrúxula união, nasce uma linda cadelinha que estava entre ser uma Golden miniatura ou uma Cocker gigante, dourada, peluda, orelhuda e alegre. Mas a amiga estava de partida para os EUA e não podia levar a jovem Sauli então com 6 meses. Perguntou-me se queria ficar com ela, pensei na Telma tão sozinha e disse imediatamente que sim.

No fim de semana a amiga (colega de empresa) veio trazer a cachorrinha pra nós. Como ela nunca tinha estado em casa, parou o carro no começo da rua pra procurar a numeração, imediato a Sauli pulou pela janela e correu decidida até o exato portão da minha casa e ali parou esperando que se abrisse. Quando eu abri o portão Telma se aproximou, nada de farejar, nada de estranhar, nenhum latido, somente o rabo que se levantou tímido enquanto as duas se olhavam demoradamente, pareciam conversar com os olhos. a Telma se virou entrou e a Sauli a seguiu, deitando-se uma ao lado da outra na mesma posição que costumavam deitar-se. 

Louise estava de volta. Nunca precisou de treinamento, agia exatamente igual à irmã e a antecessora. Fiz o teste com a comida, cada uma tinha seu pote, coloquei os dois juntos  e segurei a Telma, a Sauli escolheu o pote da Louise mesmo estando mais longe, e por aí vai, indicativos do retorno foram muitos.

Pra encerrar, dois anos após a partida da Louise, eu estava brincando com as duas na varanda quando a Telma veio lamber minha orelha. De repente ela se deitou no chão e começou a lamentar da mesma forma que o fizera na partida da irmã. Me assustei e corri para o espelho; ali, como um brinco natural o motivo do desespero dela, uma pintinha que na verdade não era uma pinta era um melanoma. Detectado ainda no princípio com menos de meio milímetro, foi retirado sem deixar sequelas. O faro da minha Labradora "melhorada" detectou naquele pedacinho de orelha, o mesmo cheiro do sofrimento da sua irmã de anos atrás... E ela salvou minha vida...

Cães tem alma sim, reencarnam sim, quem quiser se aprofundar:
http://www.humaniversidade.com.br/boletins/bichos_reencarnam.html

Portanto aos amigos que queiram conviver novamente com seus anjos companheiros, sugiro uma prece profunda e um pedido para que eles sejam re-encaminhados para nossos braços...

Uma lambida do além para todos vocês...