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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Teologia Comparada Partes 11 a 20

Teologia Comparada Parte 11.
A Ancestralidade e a Umbanda.
Quando começamos nosso trabalho, mencionamos a Umbanda como a mais jovem e mais ancestral das religiões, e talvez seja a hora de entender este conceito.
Em primeiro lugar, como já vimos, alguns nem sequer consideram a Umbanda como religião por uma definição deontológica.
            A Umbanda não possui uma liturgia definida.
            A Umbanda não possui “escrituras” sagradas.
            A Umbanda não possui um “clero” unificado ou centralizado.
Por essa perspectiva, as diferentes manifestações religiosas denominadas Umbanda, seriam só um nome comum e cada uma seria uma Seita aparte. Algumas correntes cultuam Orixás, outras não, algumas cortam para Orixás outras, só para Exú, outras para ninguém, algumas tem atabaques, outras não, em algumas o Ogã não canta, existe alguém para puxar os pontos, algumas têm cambono, outras não. Algumas trabalham com o povo de encruza outras não.
Mas curiosamente todas elas têm uma coisa em comum, a ANCESTRALIDADE.
O que é ANCESTRALIDADE? Podemos definir a questão da ancestralidade sob diferentes aspectos.
Ancestralidade Genética
Ancestralidade Espiritual
Ancestralidade Grupal ou Étnica.
A Ancestralidade Genética é aquela que conhecemos com mais facilidade, nossos pais, avós, bisavós, tataravós e daí para trás. Muito cultuada no Ocidente, herdada pelo Judaísmo, que consegue, por exemplo, traçar a Genealogia de Cristo até Adão e Eva. Também questão sagrada entre os Mórmons que durante décadas pesquisaram e guardaram suas genealogias de modo a levar o evangelho aos seus antepassados e assim dar-lhes a possibilidade de aceitarem a Jesus e serem batizados mesmo depois de mortos e assim serem salvos no Juízo Final.
Algumas culturas orientais acreditam que em nossas vidas além dos Carmas de nossas vidas passadas, resgatamos carmas que passam através do sangue, carmas familiares, de nossos antepassados. Os japoneses Xintoístas acreditam que podemos ser reencarnação de nossos antepassados, e por isso cultuam seus ancestrais como forma de atrair bênçãos para si mesmos, para eles as sucessivas encarnações acontecem sempre em grupos familiares. O Xintoísmo também é uma religião Politeísta que acredita no culto aos ancestrais assim como o Budismo originado na Índia. No Budismo não há um Deus central há um aspecto divino ao qual todas as almas chegarão um dia após abandonar os ciclos de reencarnação e o apego à matéria.
Ancestralidade Espiritual, esta é a mais difícil de explicar por ser a mais difusa, sua compreensão depende de acreditar em dois fatores, o da reencarnação, e o da unidade de consciência do espírito, nos cultos orientais, as sucessivas encarnações vão polindo um espírito que não tem propriamente consciência de si mesmo como uma unidade ou seja de certo modo sem “ego”, podemos encarnar em diferentes “reinos” espirituais aleatoriamente dependendo tão somente de nossos carmas; Ex: para os hinduístas é possível reencarnar como animal, não sendo isso considerado propriamente um castigo, mas somente uma consequência das escolhas evolutivas. Os “reinos” ditos infernais, não são eternos; assim como o Umbral espírita; uma vez esgotado o carma deixa-se a esfera espiritual probatória.
Então Ancestralidade Espiritual, não é aquela dos pais e avós de nossa vida atual, mas sim os vínculos de amor e carma adquiridos ao longo das sucessivas encarnações que se vinculam a nós, são nossos guias e mentores espirituais, bem como nossos desafetos cármicos, adquiridos ao longo de nossas vidas sucessivas. Aqueles vínculos de amor (ou ódio) que transcendem uma única encarnação, criando laços que nos acompanham por milênios ou pela eternidade, fazendo que almas afins ou ligadas pelo carma, encarnem sucessivas vezes em ambientes de contato até esgotar suas dívidas ou para auxiliar-se no desempenho de sua missão na Terra.
Se formos comparar as duas modalidades estudadas até agora, poderíamos visualizar da seguinte forma. Ao longo de uma vida (eternidade), tenho vários empregos (encarnações). Dentro desta eternidade construo vínculos (famílias espirituais) que carrego comigo, mesmo que um desses meus empregos (encarnações) me leve temporariamente para longe da família. Por outro lado, neste emprego (encarnação) tenho que resolver problemas que eu causei (meu carma) ou que meus antecessores na vaga deixaram (carma genético ou familiar) para isso, formamos grupos e equipes de trabalho, criamos relações de coleguismo (familiares e amigos da vida presente) e muitas vezes criamos inimigos em nosso trabalho (encarnação). Ao longo desse serviço pode que eu me vincule de forma mais intensa com algum desses colegas que passará a compor minha família de vida (eternidade). Ao dormir, viajo em direção a minha família eterna, ao desencarnar tiro férias entre um trabalho e outro junto deles. Essa família eterna é a nossa Ancestralidade Espiritual.
A Ancestralidade Grupal é a Ancestralidade Espiritual de todo um povo. É a soma das famílias ancestrais de um determinado grupo étnico. Curiosamente quanto mais para trás formos nessa ancestralidade mais ela se torna comum a todos os seres humanos, basta reler nossos textos para entender esse raciocínio.
Veja este exemplo, nos países Nórdicos: Suécia, Finlândia, Noruega, Dinamarca e Islândia, a imigração é pequena, a Ancestralidade Grupal dessa região é predominantemente Viking e os vínculos entre eles muito grandes pois são países de populações pequenas o que quer dizer que os laços de parentesco deles são muito mais próximos e consequentemente os compromissos cármicos familiares.
Já no Brasil temos a Ancestralidade Grupal dos índios, a Ancestralidade Grupal dos Africanos, dos Europeus de origem Latina (Portugueses, Espanhóis, Italianos), dos Europeus de origem Germânica, dos Sírio Libaneses, dos ROM, e mais recentemente, Japoneses, Coreanos e Chineses.
Percebe-se aqui uma riqueza espiritual incomensurável, cristãos, judeus, africanos, muçulmanos, budistas, xintoístas, de várias denominações de cada uma dessas religiões, tentando conviver e se harmonizar (muitas vezes de forma imposta) entre tantas religiões e filosofias e modos de encarar o mundo, a vida, a fé, o futuro, a morte etc.
E a Umbanda! Finalmente nossa jovem Anciã! Ela entende o todo, pois nos ensina a reverenciar a ancestralidade em sua totalidade, recebe dentro de si o cristianismo e toda sua ancestralidade, as religiões indígenas, a jurema e toda sua ancestralidade a matriz africana, o candomblé e toda sua ancestralidade, os orixás e cada etnia que representavam, recebemos nossos guias como nossa ancestralidade espiritual, e formamos famílias espirituais. A Umbanda recebe filhos que descendem de europeus, africanos, árabes, asiáticos, ciganos. Negro, Branco, Amarelo, oriente e ocidente, ela recebe em suas correntes escravos, pajés, xamãs, magos, sábios orientais, ciganos, doutores e curadores todos em missão de luz e crescimento.
Ao reconhecer a ancestralidade a Umbanda recebeu de uma vez milênios de sabedoria, milênios de aprendizado e evolução espiritual. Fundiu em si, todos os cultos e todas as famílias, criou um caldeirão. Nenhuma religião reuniu tanto até hoje, enquanto tantas pregam uma pureza ortodoxal, a Umbanda tem o orgulho de ser a soma de tudo. Filosoficamente a Umbanda se coloca de forma abrangente tendo a toda a humanidade como sua ancestralidade e consequentemente todo esse arcabouço espiritual como sua sabedoria a ser descoberta e conhecida.
Não é à toa que é tão temida pelos ignorantes, afinal conhecimento é poder e poder em mãos erradas é muito perigoso. Daí a responsabilidade herdada por cada sacerdote de ser guardião desse conhecimento, de ser guia de seus filhos pelos caminhos dessa ancestralidade, e de cada filho em reconhecer que a Umbanda nos faz a todos irmãos, nesta vida e nas outras, filhos da humanidade, compartilhando ancestrais, diluindo juntos os carmas de nossos antecessores, construindo um mundo de união em dois planos o espiritual e o material, preparando as futuras gerações para uma volta ao natural, ao sábio, ao divino e humano.

Salve a nossa Umbanda Divindade Maior!

Teologia Comparada Parte 12.

O Tambor e a Umbanda. Parte 1.

Para melhor entender os aspectos do Tambor na Umbanda, seria necessário uma leitura ao texto da Teologia Comparada Parte 10 para entender a definição mais ortodoxa de Umbanda. A Umbanda oficialmente assim denominada tem seu início / anunciação em Novembro de 1908. Originalmente a Umbanda fundada pelo Caboclo 7 Encruzilhadas através do seu médium Zélio de Morais não tinha a ritualística ou liturgia que hoje se encontra na imensa maioria dos terreiros do país.
Originariamente, a Umbanda ainda não havia incorporado aos seus fundamentos os Orixás, bem como seu culto, guias, oferendas. 
Obviamente que ao receber em ambos planos, encarnados e desencarnados, todos os órfãos das demais religiões; (negros, índios, mestiços, mulatos, caboclos, sacerdotes, pajés, xamãs), sua tradição, oralidade e cultura iriam impactar de forma irreversível a nascente religião. Trazendo para essa novíssima religião a ancestralidade que uniria três povos em um princípio, a negra, a indígena e a europeia. Cristianismo / Judaísmo, Pajelança, Candomblé em todas as suas correntes.
Uma coisa comum a todas essa religiões: 
O Tambor.
"Após a passagem pelo mar VermelhoMiriam e as mulheres de Israel dançaram ao som de tamboris (Êxodo 15:20). Outras mulheres dançaram com tamboris após as vitórias de Saul e David (1 Samuel 18:6). O Salmo 149 (verso 3) incentiva a louvar ao Senhor com harpa e adufe. (Cristianismo / Judaísmo)"
Mas mesmo se formos tão atrás como nas raízes do povo Judeu ainda não teremos chegado sequer perto da origem do Tambor.


" Um Tambor é uma voz viva e sensível como qualquer voz. Quando fala, nós devemos ouvir e honrar a mensagem com o que há de melhor e mais nobre em nós mesmos, pois esta é uma voz de grande poder e um presente direto de um ser muito maior. Se fizermos isso nossas vidas serão repletas e felizes"
Lowis W. Ballard, Quapak - Cherokee.

"Tambores Xamânicos: Tambor como cavalo, ou a canoa, que leva ao mundo espiritual"
"Os nativos norte-americanos associam o toque do tambor as batidas do coração da Mãe-Terra e também ao som do útero. O tambor dá acesso a força vital através de seu ritmo."
Fonte: http://www.xamanismo.com.br/tambores-xamanicos-tambor/

Fugindo a todo aspecto místico do toque do tambor, mesmo as pessoas mais leigas conseguem perceber a força da batida de um tambor. Seja a bateria da Escola de Samba levantando a platéia no Carnaval, ou o ritmo da batida dos pés de um bailarino de catira no tablado, ambos parecem que terminam por determinar a frequência de nosso próprio coração.

O Tambor por ter essa determinação sobre nosso corpo
É utilizado por xamãs e sacerdotes do mundo inteiro, em diversos tamanhos e formas, como, por exemplo o Damaru ( o instrumento de Shiva ), os tambores japoneses, as tablas indianas, as tumbadoras cubanas. É usado no Tantra, no Budismo Tibetano, nos cultos afro, tais como a Umbanda e o Candomblé ( atabaques ). Neste último existe a prática do batismo dos atabaques, onde são aspergidos por água benta; são oferecidas comidas dos santos, e os tambores envoltos com as cores dos orixas a que foram consagrados. Nos cultos jeje-nagô os atabaques são percutidos com varinhas (aguidavis), nos cultos de angola são percutidos com as mãos.
Na Sibéria, o tambor é redondo ou oval, geralmente feito com pele de alce ou rena, e os espíritos é que decidem qual o tipo de madeira deve ser usado para a fabricação do tambor.
Entre os índios brasileiros existem os tambores de cerâmica (percutido com uma baqueta), o tambor d’água (de cerâmica cheio de água); o tambor de fenda, que é uma madeira cavada em um tronco com aberturas circulares (sem pele), pendurados há alguns centímetros do chão e tocados por duas baquetas, e os tradicionais tambores de pele.
No Candomblé geralmente são três : Rum, o maior – Rumpi, o médio e Lé,o menor.

Fonte: http://www.xamanismo.com.br/tambores-xamanicos-tambor/

História
Os tambores são utilizados desde as mais remotas eras da humanidade. Acredita-se que os primeiros tambores fossem troncos ocos de árvores tocados com os pés ou galhos. Posteriormente, quando o homem aprendeu a caçar e as peles de animais passaram a ser utilizadas na fabricação de roupas e outros objetos, percebeu-se que ao esticar um pé sobre o tronco, o som produzido era mais agudo. Pela simplicidade de construção e execução, tipos diferentes de tambores existem principalmente no Brasil. A variedade de formatos, tamanhos e elementos decorativos depende dos materiais encontrados em cada região e dizem muito sobre a cultura que os produziu.

Os tambores exerciam nas civilizações primitivas diversos papéis. Além da produção de música para rituais e festas, os tambores, devido à sua grande potência sonora, também foram usados como meios de comunicação.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Teologia Comparada Partes 01 a 10

Teologia Comparada Parte 1.
Para poder entender, respeitar e aprofundar os conhecimentos sobre os fundamentos da Umbanda nos dias de hoje, devemos entender a evolução das religiões ao longo do desenvolvimento da humanidade. 
Segundo Kardec; a Fé deve ser raciocinada, e obviamente seria uma falácia raciocinar sobre qualquer fé a partir de uma única perspectiva. Ou seja, para que se possa questionar a fé é importante que eu não me limite a ler somente livros que a defendam ou que dela provenham.
Passo a explicar; as religiões em geral, cada uma tem uma perspectiva diferente do universo, o enxergam através de um filtro próprio e tendem a querer que os outros vejam da mesma forma.
Imagine duas pessoas que têm diante de si uma folha de papel amarela, uma delas usa um óculos de lentes azuis a outra um óculos de lentes vermelhas. Você terá um enxergando o papel na cor verde o outro na cor laranja, ambos terão certezas absolutas sobre suas perspectivas, a partir de seus próprios filtros e, apesar de que verde e laranja serão verdades absolutas para cada um; a realidade é amarela. Somente quando os dois depuserem suas lentes ou seus filtros (axiomas, dogmas, paradigmas, preconceitos, orgulho, sentimento de superioridade etc.), é que poderão olhar para o amarelo e enxergá-lo como realmente é. Curiosamente, se alguém sem filtros se aproximar e disser que o amarelo é amarelo, os dois se voltarão em comum contra o terceiro que "ousa" trazer uma terceira visão, ainda que esta seja a realidade. Ou seja, uma terceira verdade, esta sim condizente com a realidade.
Tratamos de demonstrar aqui que uma coisa é acreditar profundamente em algo e propagar isso com total sinceridade e outra é que este algo seja realmente verdade.
Isto posto pode-se pedir ao caro leitor, que tente conduzir as futuras leituras com mente aberta e sem filtros para entender as sucessivas leituras que irão desembocar, sem jamais esgotar, nos fundamentos da Umbanda moderna. Cabe aqui destacar que toda religião tem fundamentos; alguns destes se perdem na antiguidade junto com suas razões; por não poderem mais ser explicados ou justificados são chamados de "mito". Um exemplo disto é a tradição judaica do rito de circuncisão, que nada mais é que uma operação de fimose praticada pelo rabino no menino recém nascido. O ato é tido como sagrado a tal ponto que mesmo sendo uma ferramenta de detecção dos judeus pelos nazistas; continuou sendo praticado nos judeus nascidos durante a Guerra. Curiosamente, milênios após a instituição do sacramento, descobre-se que pessoas que tem a fimose cortada tem 90% menos chances de contrair DSTs por facilitar a higiene. Obviamente que o Plano Maior quando institui tal sacramento para os judeus, não tinha como explicar micróbios, bactérias ou micro-organismos, então; se torna axioma. É assim porque Deus quis assim.
E por falar nisso, para que possamos embarcar em nossa viagem pela história das religiões e desembarcar na mais nova e ao mesmo tempo mais ancestral delas, a Umbanda;
quem ou o quê é Deus?
Ao fazer esta pergunta milhares de respostas vêm à tona, mas esta pergunta objetiva uma resposta mais simplista, menos filosófica por parte do leitor. Supondo que o interlocutor aqui acredite em Deus e supondo que Deus decidisse Se apresentar para esse interlocutor de forma a ser reconhecido, como Ele o faria? Que forma tomaria? Como Se manifestaria?
Pede-se ao leitor que se faça esta mesma pergunta. "Como apareceria Deus para mim?"
Até amanhã quando vamos aprofundar no conceito de Deus ao longo da história da humanidade.
Axé, com as bençãos de Oxalá.

Teologia Comparada. Parte 2
Olá.
No dia de ontem esta página lançou o desafio ao interlocutor de se perguntar como Deus apareceria para cada um caso quisesse dar-se a conhecer.
Obviamente que a primeira imagem que veio à mente de cada um depende basicamente de suas crenças mais profundas.
Alguns podem tê-lo imaginado como aquele senhor musculoso de barbas e cabelos ao vento com o indicador esticado a coroar a Capela Sistina em Roma, outros talvez imaginem o próprio Cristo. Se a pergunta fosse feita a um Grego da Idade do Ouro, ele seria um ancião vibrante com raios nas mãos, e para um Nórdico da Idade Antiga; provavelmente seria também um velho, mas caolho e com um corvo nos ombros. Um Indiano talvez visualizasse algum ser de múltiplos braços ou com cabeça de elefante e por aí além.
Esta pergunta tão simples é talvez de uma profundidade imensa pois reflete exatamente quem e como somos. Pois Deus muda junto conosco. Ou pelo menos sua “personificação”.
É disso que vamos falar. Segundo a Gênese (que é comum para todas as grandes religiões do Ocidente; Islamismo, Cristianismo e Judaísmo) Deus nos fez à sua imagem e semelhança. Mas curiosamente, nós o conceituamos à imagem e semelhança de nossas necessidades, isto desde o princípio da razão humana.
Para entender o argumento acima, precisamos viajar para trás no tempo, logo após o momento em que o homem desce das árvores e começa a andar ereto. Naquele momento a ciência diz que o cérebro humano era incapaz de abstrações e como uma criança de menos de 3 anos só podia lidar com objetos concretos, ali ainda não existe Deus, ali não existe sequer Eu ou Nós ainda. Linguagem? Somente grunhidos, gestos, gritos e algumas onomatopeias significando algum animal.
Curiosamente naquele momento o que faz a diferença para o homem se destacar do resto dos animais ainda não é o cérebro, mas o fato dele ter polegares opostos que lhe permitem manipular as coisas para criar ferramentas para a guerra, a caça e nada mais.
Não existia agricultura, nem sequer domínio do fogo, sem uma linguagem, os poucos conhecimentos se transmitiam através do exemplo, os mais velhos mostravam aos mais novos como fazer. É o início da transmissão “oral” dos conhecimentos ora pelo exemplo, ora desenhando nas paredes para ensinar. A transmissão oral foi até o século XIX em muitos lugares a única forma de passar os conhecimentos e, com o tempo, a moral e ética de pai para filho.
Lembremos nesta hora que nenhum dos Evangelhos Cristãos foi escrito no próprio tempo de Cristo, o mais próximo foi datado de 200 anos depois de Cristo, do que se deduz que os Evangelistas receberam as histórias por tradição oral. Sem contar que o próprio Cristo doutrinou seus seguidores através de “historinhas”; as chamadas parábolas de enorme conteúdo moral e ético, assim como qualquer chefe de tribo desde as estepes da Mongólia às mais profundas florestas africanas. As “historinhas” foram, por milênios, a única forma de transmissão de sabedoria de todos os povos do mundo, inclusive do nascente cristianismo.
Aqui uma nota curiosa, os Jesuítas ao chegar ao Brasil tentaram unificar todas as tribos e força-las a falar um único idioma o Tupi Guarani. Ao fazer isso e proibir os índios de falar a sua língua mãe, de seus ancestrais, eles esqueceram a mesma; com isso toda a tradição oral e toda a cultura de milênios perdeu-se por falta de transmissão. Matou-se culturalmente todos os índios brasileiros. A ironia do fato é que quem se dispõe ao sagrado resgate dessa cultura ancestral foi justamente o espírito de um Padre Jesuíta, Don Gabriel Malagrida que na figura do Caboclo das 7 Encruzilhadas cria em 8 de Novembro de 1911 a Umbanda, mais nova e mais ancestral das religiões brasileiras.
Mas então; agora pergunta-se: Como era Deus antigamente? Bem antigamente?
Isso é o que veremos amanhã!
Axé, com as bênçãos de Oxalá.
Ralf Thibes. OK

Teologia Comparada Parte 3.
Ontem comentamos que se Deus escolhesse aparecer diante de cada um de nós provavelmente escolheria uma imagem com a qual o identificássemos como tal. Um grego talvez visse Zeus, um Viking talvez o visse como Odin, um Hindu talvez o visse como Shiva ou Ganesha. Mas e lá atrás, lá na pré-história?
Os homens descobrem sua fragilidade e começam a entender que para sobreviver devem viver em grupos, caçar e lutar em grupos pois sua chance de sobrevivência e êxito é bem maior.
A partir daí a convivência em comum cria códigos comuns, gestos comuns, sons comuns e esse é o começo da linguagem, da comunicação, da necessidade de compartilhar, histórias, avisos, comandos de caça ou guerra, localização de rebanhos, descrição de lugares etc.
Ainda não havia agricultura, comia-se o que a natureza oferecia e o que se podia caçar. Animais grandes, para caça-los corria-se o risco de morrer. Quanto maior o animal caçado, maior a demonstração de força do caçador, e sua liderança sobre o resto do bando.
A primeira personificação de Deus provavelmente foi o Animal, um ser sagrado por sua força e por trazer em si o sustento para o bando, alimento, mas que também podia ser morte.
Cada um tinha o direito de vestir a pele do animal abatido, quanto maior o animal maior a predominância do caçador sobre o resto do bando. Era comum vestir os chifres do animal ou carregar suas presas no pescoço como sinal de força.
Aí temos Deuses com formas de animais no Panteão Grego, Egipcio (África), Celta, na Índia e nas Américas, em diversas culturas que teoricamente nunca se conheceram entre si.
Então, naquele momento se Deus quisesse se manifestar provavelmente o faria na forma de um animal, animal sagrado.
Posteriormente o homem aprende a dominar o fogo, e a primeira vez que o homem tem contato com o fogo, foi através do raio, que veio do céu e incendiou uma árvore, o homem não sabia fazer fogo, mas quando o encontrava, tratava de conservá-lo alimentando com mais lenha. A tarefa de manter o fogo aceso exigia constante atenção e o fogo era mantido em lugar fixo, então cabia às mulheres manter o fogo aceso, uma vez que os homens saiam constantemente para caçar, por outro lado, crianças não poderiam fazê-lo e mulheres mais velhas tinham que sair à colheita de frutos, moer grãos, fazer roupas, então o cuidado era dado para as jovens mulheres. Talvez daí o costume em culturas antigas de que Virgens fossem guardiãs do Fogo Sagrado. Afinal, o fogo veio dos céus. Curioso como diversas culturas, novamente falam do fogo vindo dos céus. Temos o Titã Prometeu da mitologia grega castigado por ter roubado o fogo do Olimpo e dado aos homens. O Popol Vuh dos Maias menciona isso e voltando à Bilbia, até ser expulso do Paraíso o homem desconhecia o fogo, uma das coisas aprendidas ao comer o fruto proibido do conhecimento. E Deus passou a poder aparecer fazendo-se representar como Fogo, e assim o fez no Velho Testamento para Moisés.
Mas o fogo é incontrolável, da mesma forma que cozinha o alimento, protege, aconchega, ilumina, cozinha o barro dos utensílios, derrete os metais das ferramentas e armas, o fogo fere, o fogo destrói, o fogo mata, assim, o fogo é sempre o elemento dos deuses da guerra em quase todas as religiões, o progresso e a guerra sempre andaram de mãos dadas na história da humanidade.
Uma curiosidade sobre o fogo e a tecnologia é a origem do “Mito” das grandes espadas da história, Excalibur de Arthur, La Tizona y La Colada de El Cid Campeador, Durendal presente de Carlos Magno a Rolando da França e outras. Até a chegada dos árabes à península espanhola no ano 711 da Era Cristã e que durou até 1497 quando os Reis de Castela e Aragão finalmente conseguiram expulsá-los; as espadas eram instrumentos feitos de ferro; tremendamente pesadas para que não se partissem ao primeiro impacto. O aço então ainda era desconhecido. Reza a lenda que um ferreiro de Damasco (Síria) forjava uma espada ao vermelho vivo quando sofreu uma tentativa de assalto, para defender-se o ferreiro atravessou o assaltante com a espada incandescente, o que aconteceu é que o carbono do corpo do assassino incorporou-se ao ferro da espada, transformando-o em Aço, como nada parecia quebrar essa espada; o ferreiro presumiu que a alma do bandido estivesse presa à espada. A partir daí cada vez que uma espada era feita, a mesma era “temperada” atravessando um ser humano para capturar sua alma. Quanto mais nobre a vítima; mais nobre a espada. Essa técnica depois foi passada aos ferreiros de Toledo, importante cidade árabe na Espanha, que também ficou famosa no mundo antigo por sua metalurgia. Com o tempo descobriu-se que um carneiro surtia idêntico efeito...
Mas andou-se rápido demais! Muçulmanos, Cristãos, Monoteísmo. Será? Porquê? Desde quando?
Esse será o assunto da leitura de amanhã
Axé para todos, com as bênçãos de nosso Pai Oxalá.  Ok

Teologia Comparada Parte 4
Zeus, Thor, Tupã, Xangô, todos Deuses do Trovão da Grécia, países nórdicos, Brasil e África. Ogum, Ares, Marte, Tyr, Kali, Montu todos Deuses da Guerra, respectivamente da África, Grécia, Roma, Países Nórdicos, Índia e Egito.
Os temas se repetem, sejam lendas, sejam mitos alguns temas povoaram culturas que em remotos tempos não tiveram contato entre si. Não há uma única prova sequer de que hajam existidos dragões de verdade, no entanto eles povoam a imaginação de diversos povos que nunca se conheceram entre si há milênios. Desde os dragões chineses, sagrados e sábios, aos dragões ingleses, violentos e vingativos, ao Deus supremo dos Astecas Quetzalcoatl a Serpente Pássaro, ou a Serpente Emplumada. Se bem não há como provar que não existiram, também fica difícil explicar como o ser humano de tantas distâncias conseguiu conceber um ser  tão díspar e tão comum em tantas culturas. Aí temos uma nova definição para a palavra Mito; algo em que se insiste em acreditar mesmo que não haja provas, isso claro se a crença for do outro, porque se for a própria aí não é Mito, aí é Fé....
Mas porquê vários Deuses? E porquê um só? Ou porquê Deus?
Á medida que a raça humana se desenvolve, os grupos vão se diferenciando. Com o advento da agricultura a humanidade começa a se dividir basicamente em dois grupos, os nômades caçadores e guerreiros e os agricultores, que por ficarem estáveis em suas terras, podem desenvolver civilizações mais complexas. Curioso é observar que até as divindades desses povos passam a ser diferenciadas. Entre os nômades caçadores, sujeitos à intempérie e às variações da natureza, os deuses são cruéis e vingativos, de aparência assustadora, enquanto nos povos agrícolas eles costumam ser bonitos, mais dóceis e de natureza mais volúvel, mas menos cruel. Ex, Deuses nórdicos e deuses gregos para comparação. Os nórdicos bem mais sombrios que os gregos.
Algumas culturas agrárias preferem uma Deusa, já que a fertilidade é um universo sempre feminino, aí vemos um questionamento interessante. Quem disse que Deus precisa necessariamente ser um elemento masculino? Quem disse que Deus é Yang e não Yin ou os dois? Quase todas as culturas antigas têm Divindades que oscilam entre o masculino e o feminino.
A partir deste momento, Deus passa a ser os elementos da natureza que asseguram a sobrevivência, o sol (Apolo, Oxalá, Osíris), a chuva (Iansã), a terra (Gaia, Nanã, Tonantsin), o Fogo (Xangô, Loki, Vulcano, Hefaístos), a família (Ceres, Yemanjá, Isis), as florestas (Pã, Oxósse, Aruanã), a sabedoria (Palas, Minerva, Ganesha, Odin) os Rios e Mares (Iara, Poseidón, Netuno, Yemanjá, Oxúm, Aegir, Ptah).
Todos os panteões divinos, sejam eles greco-romano, nórdico, egípcio, hindu, ou africano, colocam os Deuses em relações de parentesco uns com outros, sendo que todos eles têm características humanas extremamente bem definidas, em virtudes e defeitos, mas todos dotados de superpoderes que lhes permitem interferir na natureza, e curiosamente no livre arbítrio das pessoas. São deuses, ciumentos, vingativos, namoradores, conquistadores, capazes de grandes gestos de amor ou de ódio, e que intervêm diretamente na vida dos povos.
Das relações entre eles e os humanos, vêm as sucessivas lendas ou histórias ou mitos que durante milênios ajudaram a formar a personalidade das pessoas, incutindo-lhes os valores necessários para sua evolução moral e ética ao longo do tempo.
Falando nisso, vai aqui mais uma curiosidade: como já mencionamos anteriormente, lá pelo ano 700 a Espanha foi invadida por Mouros, ou seja Árabes do norte da África de religião Islâmica e que lá permaneceram por quase 800 anos. Considerando sua expulsão perto do ano 1500, podemos dizer que os muçulmanos ocupam o norte da África há uns 1300 anos ou mais.
Ou seja que uma imensa quantidade dos negros que foram trazidos como escravos da África ou eram ou tiveram contato com os Muçulmanos, na sua imensa maioria, alfabetizados, com conhecimentos matemáticos e obviamente religiosos. A partir desse prolongado intercâmbio, existe uma teoria de que Orixalá e Oxalá como nomes do Orixá pai de todos, tenha recebido influência do Árabe onde a palavra Deus é Allah. Tanto é assim que as expressões Insh’Allah e Oj’Allah significam ambas “Queira Deus”, e ambas permanecem tanto no Espanhol atual como no português arcaico (Ojalá / Oxalá) significando “tomara” ou ‘tomara que”. A palavra Xa como “regente” também aparece no árabe, Xa era o imperador do Irã (país muçulmano).   O simples fato de se colocar um Orixá acima de todos pode ser entendido como uma tentativa de ir em direção a uma religião monoteísta em função dessa influência, dependendo da proximidade ou não com esse mundo árabe muçulmano, monoteísta, colonialista e jihadista. Cabe destacar que o Islam está na África pelo menos 700 anos antes do Cristianismo tentar chegar lá com único objetivo arrecadador, explorador, escravizador
Mas então; quais as vantagens do Monoteísmo ou do Politeísmo? Isso será visto na leitura de amanhã onde se estudarão as guerras ditas Santas.

Teologia Comparada Parte 5.
Talvez esta conversa devesse começar com um pequeno lembrete: Independente de qual seja nossa crença; de qual seja o nome de nosso Deus ou Deuses, com certeza a Criação não tem qualquer responsabilidade sobre nossos atos neste mundo. Não podemos culpar Allah pelo atentado às Torres Gêmeas ou a Cristo pela caça às bruxas que matou tantos inocentes.
Feito este aparte, continuemos:
Em “O Livro de Ouro da Mitologia” de Thomas Bulfinch, o autor ao questionar a veracidade ou não dos fatos referentes à Mitologia Grega apresenta várias Teorias.
Na Teoria Histórica, todos os personagens teriam sido seres humanos reais, e as lendas e tradições fabulosas seriam apenas acréscimos e embelezamentos, surgidos em épocas posteriores. Assim, a história de Eolo, rei e deus dos ventos, teria surgido a partir da vida de algum governante de alguma ilha do mar Tirreno que tendo reinado com justiça e piedade, ensinou os nativos o uso da navegação a vela e como predizer pelos sinais atmosféricos, as mudanças do tempo e dos ventos. – Isto seria muito similar ao que os estudiosos pensam dos mitos dos Orixás, chefes de tribos que marcaram na história pelo bem ou pelo mal praticado.

Na Teoria Alegórica, todos os mitos da Antiguidade eram alegóricos e simbólicos contendo alguma verdade moral, religiosa ou filosófica, ou algum fato histórico sob a forma de alegoria, mas que, com o decorrer do tempo, passaram a ser entendidos literalmente. Assim Saturno que devora os filhos seria uma analogia do Tempo que destrói tudo que cria.  - Neste caso, muitos ensinamentos poderiam ser atribuídos a figuras históricas a través de parábolas ou historinhas visando valorizar o ensinamento, muitas passagens educativas em vários povos são atribuídas a Buda, Krishna, Oxalá ou Jesus, sem que tenhamos absoluta certeza de que realmente ocorreram, mas que obviamente a profundidade de seu ensinamento aumenta ao lhes serem atribuídas.



Mas a mais interessante talvez seja a Teoria Bíblica; de acordo com esta teoria, todas as lendas mitológicas têm sua origem nas narrativas das escrituras, embora os fatos tenham sido distorcidos ou alterados. Assim, Deucalião é apenas um outro nome de Noé, Hércules de Sansão, Árion de Jonas. O Dragão que guarda os Pomos de Ouro era a serpente que enganou Eva. – O interessante desta teoria é saber qual copiou de quem, porque se a lenda original for a Grega então a Bíblia nada teria de sagrada seria somente uma tentativa de compilar a tradição oral vigente do Oriente Médio. Agora se as escrituras forem a fonte, então Homero definitivamente teve contato com as sagradas escrituras. O que é plausível pois Homero viveu no Séc VIII antes de Cristo, quase mil anos após a época que se acredita que Abraão fundou as bases do Judaísmo. Conforme o Gráfico.
Curioso observar que durante quase mil anos o Judaísmo foi a única religião monoteísta do mundo, e que mesmo quando ainda minoritária, sem terra e perseguida; conforme a própria Bíblia relata, era incapaz de viver em paz com seus vizinhos.
Se formos analisar a fundo as grandes guerras da antiguidade, aquelas baseadas em fundamentação religiosa (ainda que sempre a questão da religião fosse mero argumento para encobrir motivos econômicos); veremos que sempre são entre as referidas religiões monoteístas, ou tem uma delas envolvida em perseguição a outra politeísta.
Por quê nunca vemos guerras entre religiões politeístas?
Talvez a resposta esteja em que para uma religião politeísta é sempre mais fácil aceitar um novo Deus ou Deusa, desta forma divindades migraram do Panteão Grego para o Egípcio e vice-versa, Hator e Ápis eram Vaca e Boi sagrados assim como na Índia ainda são. As religiões monoteístas não se combatem porque seus Deuses são locais, e quando são Deuses de uma mesma linhagem (Júpiter e Zeus, Athena e Minerva) acabam se absorvendo e sendo cultuados juntos.
Um caso bastante recente disso (09 de Dezembro de 1531) é o caso do Milagre de Guadalupe, onde a imagem milagrosa da Virgem Maria aparece totalmente tomada por símbolos astecas em sua vestimenta, como a fita roxa que simboliza para os astecas a gravidez, ou a flor de quatro pétalas desenhada no ventre para indicar que Deus ali estava, ou os cabelos soltos e escorridos que só as virgens podiam usar nos costumes da época, mas ao estar sobre a Lua e com estrelas em seu manto, ela era também Tonantzin a Deusa Mãe de Quetzalcoátl (A serpente pássaro) o Deus maior da América Central, curiosamente Tonantzin não é um nome, mas um apelativo e quer dizer justamente Nossa Senhora. As razões inexplicáveis, mesmo para a ciência atual para o aparecimento da imagem tão perfeita que até hoje seria impossível de ser reproduzida em iguais condições, mostram claramente o intento da Espiritualidade Maior de fundir duas religiões, uma Politeísta outra Monoteísta dois povos completamente diferentes, criando um elo comum de amor que pudesse evitar ainda mais guerras e derramamento de sangue. Agora todos tinham algo em comum, tinham a mesma Mãe...
Na nossa próxima conversa, vamos continuar analisando o caráter belicoso e “colonialista” dos seguidores das religiões monoteístas e seus múltiplos embates na história e começar a entender um pouco o Politeísmo Africano e como ele chega ao Brasil.
Até Lá, Axé, Que Oxalá abençoe a todos.


Teologia Comparada Parte 6.
Bom na última leitura pudemos observar historicamente que a imensa maioria das guerras ditas Santas envolveram ao menos uma das três religiões monoteístas lutando entre si ou contra as politeístas.
No gráfico das religiões monoteístas publicado junto à conversa anterior, podemos ser levados ao engano de que o Judaísmo seria a mais antiga das religiões o que é falso. Na verdade a mais antiga das religiões é o Hinduísmo. Quem garante é o teólogo Rafael Rodrigues da Silva, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo. A disputa com as religiões do antigo Egito e o Zoroastrismo (surgido na Pérsia) é acirrada, mas a crença adotada por 80% da população da Índia ganha. Os primeiros textos sagrados do Hinduísmo, os Vedas, foram escritos há mais de 3 500 anos. As origens da religião, porém, têm raízes na pré-história. O Hinduísmo não teve um fundador determinado, como o Islamismo de Maomé, e admite total liberdade de crença, reunindo seitas que cultuam um grande número de deuses e divindades – os mais importantes são Brahma (que representa o princípio criador), Vishnu (deus do sol) e Shiva (das tempestades). Apesar de mais antigo, o Xamanismo não pode ser considerado uma religião, afirma Rodrigues da Silva, pois não possui uma organização clara, com doutrina (conjunto de princípios) e clero (entidade com sacerdotes).
O autor deste artigo Teologia Comparada discorda desse critério de exclusão que muitas vezes é também utilizado para desmerecer a Umbanda e o Candomblé como religiões e coloca-las no nível de seita.
O Xamanismo é, no mínimo, a manifestação religiosa mais antiga conhecida pelo homem; curiosamente não pode ser chamada de politeísta pois para o Xamanismo não existem Deuses, existem espíritos ancestrais. Sua figura central é o xamã, curandeiro tribal que, segundo acreditam os seguidores, é capaz de visitar o mundo dos espíritos e resgatar as almas de pessoas doentes. O Xamanismo é a primeira, mais antiga e mais abrangente manifestação religiosa do homem e ainda é praticado em diversas regiões do planeta ás vezes chamado de curandeirismo, feitiçaria, pajelança... Acredita-se que tenha iniciado nas estepes russas ainda antes da última glaciação e se difundiu por todo o Nordeste da Ásia; atravessou a “ponte de gelo” do Estreito de Bering entre Ásia e América e dominou por milênios do Canadá ao sul do Chile, tendo sido a base para todas as religiões das regiões montanhosas do continente americano. O Xamanismo acreditava que todo ser vivo tinha alma, e que os locais da natureza tinham animais protetores ou almas de animais protetores (animismo). O Animismo existe até hoje em diversas mitologias elfos, duendes, gnomos, leprechauns, ninfas, faunos, salamandras, saci, curupira...  Ocupa um espaço tão grande na formação milenar de nossa personalidade como espécie ou grupo social, inconsciente coletivo que todos os povos e todas as religiões do ocidente não conseguem evitar que seus membros recorram a uma de suas manifestações em momentos de desespero, Jung reconhece essa influência ao falar de nossas sombras e nossos arquétipos.  O Zoroastrismo, por sua vez, é a mais antiga religião criada por um fundador conhecido, o profeta Zoroastro, ou Zaratustra. Está quase extinta, não fosse pela presença de alguns representantes, homens tidos como santos no Norte da Índia que ainda seguem essa religião, famosos por sua benemerência e desprendimento. Essa religião é a primeira a manifestar a famosa dicotomia bem versus mal no mundo e a dividir o universo entre duas forças uma criadora, simbolizada pelo sol e pelo fogo e outra destruidora simbolizada pelas trevas dá-se a isso o nome de maniqueísmo. Pode ter saído dela o conceito de “demônio” que permeia o cristianismo e o islamismo. Curiosamente a palavra demônio vem do grego “daimon” que quer dizer espírito.
Os Zoroastristas não têm templos e não cultuam imagens, realizam suas manifestações em altas montanhas para adorar o sol e seus sacerdotes são chamados magos. Essa religião foi fundada na Pérsia e dominou todo o mundo árabe até ser varrida do mapa pelo Islamismo que obrigou todos os seus subjugados a renunciar à fé ou a fugir das áreas invadidas (em nome de Allah). Mas, considerando que o Islam é ainda mais novo que o Cristianismo; esse fato veio a ocorrer já em tempos mais recentes por assim dizer. Na época do nascimento de Cristo; o Zoroastrismo era uma religião enorme, poderosa e amplamente difundida em todo o mundo árabe e boa parte da Índia. Diz o Novo Testamento que três de seus mais poderosos sacerdotes foram visitar Jesus em seu nascimento. Os famosos escritores de biografias atuais, veriam nesta abordagem por parte dos ”biógrafos” de Jesus, como um adendo inofensivo à história mas que permitiria no futuro que os leitores acreditassem que os mais sábios representantes da antiga religião se curvaram perante o novo poder que chegava. Nem os evangelistas, nem os biógrafos estavam lá no momento, portanto acreditar que os Reis Magos lá estiveram realmente é hoje um Ato de Fé, ou um mito dependendo do ponto de vista.

Mas voltemos ao politeísmo e observemos que além do zoroastrismo e das religiões monoteístas; essa questão do bem e do mal, da dicotomia, do maniqueísmo que permeia as quatro religiões não existe nas religiões politeístas. Mesmo aquelas que tem forças opositoras, como o Loki dos nórdicos, Tifon dos egípcios, eles são mais uma força, e a eles pese à sua oposição às forças criadoras; não se lhes coloca exatamente como o mal, mas como forças de renovação através da destruição. Enfim, nas religiões politeístas não existe demônio. Assim como não existe demônio para o Espiritismo, nem para sua filha rebelde a Umbanda nem para sua maior influenciadora o Candomblé.

Nem o TAO oriental aquela esfera com duas meias luas uma branca e outra preta representando o equilíbrio do universo fala disso, pois o símbolo do TAO representa justamente a idéia que os opostos são partes de uma força criadora única, masculino-feminino, quente-frio, luz-escuridão. Mas não Bem ou Mal porque para os orientais todo Mal é aprendizado e no longo prazo será parte do caminho para a perfeição, portanto o mal só é mal apreciado no momento, temporariamente. O mal é um degrau na direção do todo ou da perfeição.

Curiosamente todas estas religiões orientais, politeístas, carregam dentro de si um conceito de retorno sobre a ação em igual polaridade, bem por bem, mal por mal. Recebe diversos nomes, resgate, lei de ação e reação, lei do retorno ou o mais antigo herdado do Oriente: o Carma. Se formos analisar friamente o conceito de carma, e partindo que todo mal praticado retorna ao praticante de forma a moldá-lo para o bem, então o mal não seria propriamente mal, mas a escolha de um caminho mais doloroso em direção ao impreterível bem, afinal ninguém deseja sofrer eternamente.

Na próxima conversa vamos aprofundar em um tema bastante interessante e que tem rendido muito dinheiro para alguns ao longo da história; o Demônio.

Axé, que Oxalá nos abençoe.

Teologia comparada: Parte 7

No Capítulo anterior conversamos sobre a dicotomia do bem e do mal em contraposição à Lei do Carma.
Observemos que esse conceito de resgate ou punição, podia acontecer ora por despertar a ira de algum dos muitos Deuses, ora por entender que tudo que vai volta. Esse temor ao julgamento divino permeia também nosso inconsciente de muitas formas; a mais ingênua das crianças, quando erra, é incapaz de atuar naturalmente para esconder sua culpa e todo ser humano de alguma forma se denuncia na hora de mentir. Todos tememos inconscientemente uma força maior, todos tememos a punição, todos tememos, o inferno, o umbral o Hades.

Um detalhe interessante é a evolução da figura do demônio ao longo da história, Lúcifer ou Satanás ou Satán, ou como se chame não existe de forma explícita para os judeus. Nos textos antigos dos Judeus, a serpente é tão somente o mais astuto dos animais que convence Eva a sucumbir à sua própria curiosidade como o fruto proibido; os primeiros cristãos superpuseram o conceito zoroastrista do Mal personificado e atribuíram-no à serpente. Lúcifer segundo a tradição judaica utilizada na confecção da Bíblia católica, teria sido um título de honra de um Rei Babilônico que teria sido morto (caído) em uma guerra por arrogância; o resto foi questão de tradução para que a figura do “anjo” caído criasse força. Outras influências como a da guerra dos Deuses e Titãs da mitologia grega podem ter alimentado a ideia de anjos caídos mas na tradição judaica não existe um demônio, ele é invento dos cristãos.  Já nos primórdios do cristianismo cabia a ele uma posição semelhante à de Hades ou Plutão a divindade greco-romana que guardava as almas dos mortos no submundo. No caso do demônio cristão da baixa idade média, ele guardava as almas dos impuros e os mantinha em eterno suplicio. Como fica evidente no clássico A Divina Comédia de Dante Alighieri. Convenientemente, à medida que a Igreja Católica precisa financiar as Cruzadas, começa a buscar meios de aumentar sua arrecadação, São Patricio na Irlanda institui a necessidade da Confissão a partir das epístolas de Paulo e assim a igreja católica passa a controlar os mais sombrios segredos de todas as nobrezas da Europa. O demônio ali, deixa de ser mero guardião dos infernos e sincretiza-se com a astuta serpente da tentação do paraíso, o demônio passa a ser o Grande Tentador, aquele que luta contra Deus por nossas almas, aquele cujo interesse foi curvar a Jesus e falhou passa de repente a correr atrás dos filhos; e o fiel passa a precisar como nunca da Igreja para protege-lo das tentações do mal.
A Igreja começa a caçar ostensivamente o “demônio”, a Santa Inquisição ou Santo Ofício começa a queimar curandeiras, parteiras, cientistas, sábios, sacerdotes de outras religiões, quaisquer opositores, ciganos e judeus por feitiçaria em nome do Demônio, escrevem-se livros sobre como identificar pessoas demonizadas, Malleus Maleficarum foi o principal deles. Utilizado inclusive para justificar a escravidão no Brasil, fator fundamental para o advento do Candomblé no Brasil, sua perseguição e, posteriormente, da criação da Umbanda. Nesse Período o Demônio ganha forma (imagem), a de todas as manifestações divinas politeístas, seja o Deus Galhudo dos Celtas, seja o Deus Pan dos pastores greco-romanos (com pequenos chifres e pés de bode), ou o símbolo da Alquimia (mãe da ciência) que em uma mistura entre ciência, magia, filosofia e conhecimentos ocultos desenvolveu uma imagem que sintetizava todo o conhecimento antigo chamada BAPHOMET que lembra um bode. Este símbolo foi apresentado para o Ocidente, segundo a própria igreja católica, por um grupo de sacerdotes católicos, padres guerreiros chamados Cavaleiros Templários. Estes se tornaram uma ordem tão poderosa em termos militares, financeiros e principalmente de conhecimentos do oculto e do sagrado, que o Papa se uniu ao Rei da França Felipe IV  e, em 13 de Outubro de 1307 (origem da lenda de que Sexta Feira 13 dá azar), matou a todos os membros da ordem;   mandando inclusive queimar em praça pública seu principal Mestre Jacqes de Molay. Se bem pouco se sabe sobre a Maçonaria e o pouco que se sabe não se comprova; muitas lendas relacionam a maçonaria aos templários e há uma lenda antiga em que um detrator da maçonaria relacionou a imagem do Baphomet com os maçons, visando demonizar a instituição e inclusive dar à Igreja Católica motivos para persegui-la. Resumindo, o Demônio, que até então não existia, deixa de ser um belo anjo para ser uma figura triste de pés e cabeça de bode, rabo e asas de morcego, podendo então justificar toda e qualquer incursão catequizadora sobre qualquer religião politeísta que adorasse alguma divindade com pelo menos uma dessas características. “Em nome de Jesus vamos acabar com os adoradores do demônio”.  Esta deve ser, de longe, a frase que mais antecedeu barbaridades no ocidente nos últimos mil anos.

Um detalhe importante, se formos considerar como verdade muitas novas denominações exotéricas que baseiam suas fórmulas de sucesso no poder das palavras, nas chamadas criações astrais, programação neuro-linguística e outras formas de criação através da força do pensamento; já são quase 2 milênios em que metade da população mundial vem acreditando em um demônio, atribuindo-lhe poderes e capacidades. É muito provável que o que não havia no princípio, por criação de Deus, exista hoje por criação do homem.

Na próxima conversa vamos ver a importância da figura do Demônio na criação e formação das religiões de matriz africana no Brasil e como isso também acabou por influenciar a própria Umbanda.

Axé, que Oxalá nos abençoe.

Teologia Comparada Parte 8.
Bom, viajamos quase 20.000 anos na história Xamanismo (sem Deus), Hinduísmo (politeísta), Zoroastrismo (maniqueísta), Judaísmo (monoteísta), Budismo (sem Deus), Cristianismo (monoteísta), Islamismo (monoteísta). Todas ainda vivas e cultuadas em algum lugar do mundo. Todas elas em algum momento foram ou ainda são religiões de imensa abrangência e alcance, e por alguma razão acabaram sobrevivendo às outras, muitos panteões passaram a fazer parte da história como o Grego, o Maia, o Asteca, o Nórdico, o Celta; todos engolidos pelo cristianismo e o Egípcio engolido pelo Islam. Isso sem falar nas centenas de religiões locais das diferentes tribos ao redor do mundo desde os indígenas americanos aos aborígenes australianos; todas elas cuidadosamente apagadas da história em nome de Deus ou de Allah.
Curiosamente, todas as guerras de cunho religioso, foram promovidas ora pelo cristianismo ora pelo islamismo contra religiões minoritárias ou entre si (vide Cruzadas), mas sempre como pano de fundo para razões bem menos divinas e bem mais materiais. Sempre o fundamento era “levar Deus”, mas a verdade era “trazer riquezas”, “conquistar territórios”, “controlar rotas”, “ganhar poder”.
E finalmente chegamos ao período colonial, países como Holanda, França, Espanha, Portugal e Inglaterra, (e os Reinos de Nápoles, Gênova e Veneza que iriam compor a futura Itália) começam a se jogar ao mar em busca de comércio, terras, fontes de riquezas. A África e a Ásia já eram conhecidas, a América ainda não. O maior obstáculo na época era uma religião nova chamada Islam, quase 600 anos depois do Cristianismo, o Islam saiu da Península Arábica e disseminou-se pelo Oriente Médio com uma sanha conquistadora tão furiosa quanto a de grupos atuais como o Taliban ou o Estado Islâmico. Em sua Jihad eles invadiram todo o Oriente Médio, acabando com o Zoroastrismo e empurrando seus poucos remanescentes para o Norte da Índia (politeísta e consequentemente mais tolerante). Tendo conquistado todo o Crescente Fértil, a antiga Mesopotâmia  e o resto do Oriente Médio berço do Judaísmo e do Cristianismo, onde hoje se encontram países como Iran, Iraq, Síria, Líbano, Jordânia, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Turquia, decidiram atravessar o Atlântico; Egito, Argélia, Marrocos, Líbia, Tunísia, todos os que limitavam com o Mediterrâneo, e ainda tentaram invadir a Europa!!!
Bom só chegaram até o sul da Espanha onde foram parados pelo Rei da França e pelos muitos Reis dos pequenos Reinos do Norte da Península Ibérica que viriam a ser Espanha e Portugal, que convenceram os cristãos a lutar e morrer para proteger o Caminho de Santiago, uma rota de Peregrinos que vai da França até a Galícia (Noroeste da Espanha) onde acredita-se esteja enterrado o apóstolo Tiago. Esta peregrinação permitia aos que a realizassem, a concessão da entrada ao paraíso mediante o perdão automático de todos os pecados...
Os árabes ficaram 800 anos na Espanha e sua expulsão e seu espólio permitiram aos Reis de Castela e Aragão (Fernando e Isabel) financiar seu expansionismo colonialista pelo mundo e principalmente para as Américas, até que as próprias riquezas americanas começassem a financiar a coroa espanhola.
Mas todas essas cabeças coroadas precisavam de uma desculpa para invadir, escravizar e espoliar, um motivo para justificar os genocídios, as violências. A Santa Madre Igreja entrou com a motivação. Combater o Demônio, levar Deus, catequisar, cristianizar. E para que essa missão fosse santificada, obviamente que a Igreja fez parte ativa deste processo, tanto nas Américas como na África, obviamente que só na África subsaariana, porque a África Mediterrânea já era domínio do Islam. E assim toda e qualquer divindade encontrada na África ou nas Américas passaram a ser manifestações demoníacas.
Aqui estão estabelecidas as bases para a conjunção de fatos que deram origem às diversas religiões brasileiras denominadas “de Matriz Africana”.
·         Colonização da América
·         Necessidade de Mão de Obra para extrativismo e posteriormente monoculturas.
·         Impossibilidade de escravização da população local.
·         Chegada de Portugal à América
·         Tráfico Negreiro.
·         Movimento Expansionista Português em direção ao centro do continente (Bandeiras)
·         Presença marcante da Igreja Católica, outrossim menos Inquisidora que a Ibérica.
·         Esforço da Espiritualidade em manter a tradição oral africana para os expatriados
o   Á medida que desencarnavam os sábios e feiticeiros das tribos começam a se manifestar mediunicamente entre os escravos no Brasil
o   A espiritualidade começa a se movimentar para unir os escravos sob uma única religião.


Para entender a importância das religiões de matriz africana no Brasil, necessário se faz entender um pouco da história dos movimentos que trouxeram a própria África para o Brasil. E para isso, como Nação termos que fazer um mea-culpa.

A África compartilhava com a América do Sul a característica de povos chamados primitivos, viviam em harmonia e pleno contato com a natureza, mas com baixos níveis de desenvolvimento tecnológico (salvo as grandes nações Andinas aqui e a Egípcia lá). 

Um aparte aqui, é que a escravidão não foi invento dos Europeus, ao contrário dos indígenas brasileiros, que tinham uma convivência relativamente pacífica, os diferentes povos africanos viviam em guerra e os vitoriosos vendiam os perdedores como mão de obra escrava, em um primeiro momento para os invasores islâmicos, e para os egípcios em geral, e os Europeus só se tornaram uma nova opção de mercado.

A chegada dos Europeus e a necessidade de mão de obra para as culturas monoteístas e extrativistas, fez com que houvesse uma captura em massa, primeiro dos indígenas para tal propósito. Em muitos casos utilizando o catolicismo e passagens da própria Bíblia para justificar este ato, tirava-se dos índios o direito á posse de seu solo, na imensa maioria das vezes ao uso de sua linguagem, seus costumes etc. Mas isso se fazia muito difícil pois os índios locais fugiam, se rebelavam, os que não fugiam morriam rapidamente, ou adoeciam e se tornavam improdutivos.  A solução africana então surge. Para evitar rebeliões ou fugas em massa, já no outro continente, eram separados em grupos de diferentes nações preferentemente rivais, de diferentes idiomas, para que os indivíduos heterogêneos não criassem uma identidade de grupo. Os Negros Muçulmanos que sabiam ler e sabiam matemática às vezes até medicina eram os mais valorizados chamados de Mandingas, graças a seu desprezo pelos “infiéis” eram escolhidos para ser seus vigias, e cuidadores.

 Já na África eram despojados de suas famílias, de sua terra, de seus costumes e principalmente de sua liberdade.  Em porões de navios escuros por semanas sem ver a luz do sol, sem beber água fresca, comendo restos, vivendo entre as próprias fezes e os ratos, misturados homens, mulheres, crianças, sofrendo todo tipo de violência física e psicológica eram então despojados de sua dignidade.
Aqui chegando recebiam um novo nome, neste momento eles eram despojados de suas origens, de seus pais, avós, antepassados, despojados de sua herança cultural, despojados de sua essência e ancestralidade.

Ao serem vendidos lhes era então retirada a humanidade...

 Já naquela época, movimentos sociológicos e antropológicos incipientes entendiam que a única forma de poder liberta-los seria dar a eles uma identidade comum, algo em que acreditar, algo que os unisse. 
Em um movimento arquitetado pela espiritualidade maior, realizado por anti-escravagistas em ambos os planos, começa-se a unir elementos das diversas religiões politeístas da Mãe África para criar-se uma religião que trouxesse de volta para os negros suas origens, que contasse suas histórias, que pudesse ir oralmente de pai pra filho restituindo suas identidades, sua ancestralidade, sua força. Cria-se então o Candomblé, que de tanta força que teve na união desse povo tão maltratado, passou logo a ser perseguido e pra que continuasse a ser cultuado, sincretizou-se com o catolicismo, de onde os Orixás encontram seus equivalentes no Panteão dos Santos Católicos. 

 Infelizmente o ódio no coração dos irmãos escravos acabou em muitos casos por desvirtuar a religião original, influenciados por espíritos sedentos de vingança e guiados pelos degradados ora chamados magos negros, o Candomblé acaba por desvirtuar-se de sua razão original e em muitas casas (não todas, é claro) passa a instrumentalizar-se para a prática do mal.

Já em meados do século XIX o Kardecismo explodia na França e logo é trazido ao Brasil. Curiosamente ele é tão bem aceito aqui graças à predisposição do Brasileiro em aceitar essa interferência do além justamente pela proximidade com os cultos africanos. Mas o Kardecismo foi introduzido no Brasil por aqueles que podiam viajar para a França, para estudar, aqueles que falavam Francês para ler as obras de Kardec, resumindo a nata da elite financeira e intelectual do Brasil.

O Kardecismo entra no Brasil pela porta da frente das mansões dos poderosos. E, se bem sempre trouxesse em si o bojo da filosofia cristã do amor, da caridade, da humildade, do eterno aprendizado e da interação entre encarnados e desencarnados, encontrou aqui um obstáculo que na Europa não existia e por tanto não fora previsto.

 Imagina naquela época quantas vezes um irmão de Kardec imbuído nos mais profundos valores de amor e caridade emprestando seu psiquismo voluntariamente para a espiritualidade, não era confrontado pelo espírito revoltado de um irmão negro que havia sofrido em suas mãos fosse em atual encarnação, ou em encarnação recentemente vivida, ou por atos de antepassados recentes. Qual não era a vergonha desse irmão espírita que mesmo em grande esforço de humildade se via obrigado a enfrentar tal julgamento diante de outros irmãos.

Um misto de temor à exposição e vergonha, somado à natural revolta dessas almas atormentadas dos escravos desencarnados e suas atitudes muitas vezes violentas; o fato de que essas almas ainda no umbral presas a memórias de uma única vida tinham pouca ou nenhuma instrução, começaram a ser vistos como espíritos sem luz, inferiores, trevosos, e gradualmente começaram a ser banidos ou evitados em reuniões mediúnicas. Milhões de seres na espiritualidade que quando na terra tinham sido despojados de tudo, até de sua humanidade, ao chegar do outro lado também acabavam encontrando portas fechadas.

Mais uma vez a espiritualidade se mobilizou, esses irmãos precisavam de amparo, precisavam de apoio, precisavam de alguém que lhes falasse de amor, de uma forma simples, de modo que eles pudessem entender, sem tanta ciência e palavreado incompreensível. Mais uma vez reúnem-se os Orixás entidades de muita luz manifestando-se em formas e energias que fossem afins à sua crença simples, espíritos que deviam ensinar por metáforas e exemplos para almas que não tinham letras. E dentro de uma das mais simples casas Kardecistas, o Espírito do Padre Jesuíta Gabriel Malagrida, nesta feita na forma e fala de um Índio de grande força auto intitulado Caboclo das Sete Encruzilhadas, lança a pedra fundamental da Umbanda segundo suas próprias palavras:


manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas, declarando que, naquele momento, se iniciava um novo culto em que os espíritos dos velhos africanos, que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos do Brasil poderiam trabalhar em benefício dos seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. A prática da caridade (amor fraterno), seria a tônica desse culto, que teria como base o Evangelho de Cristo e como mestre supremo, Jesus.
Após estabelecer as normas em que se processaria o culto, deu-lhe também o nome, anotado por um dos presentes como Alabanda, substituido por Aumbanda, que em sânscrito pode ser interpretada como "Deus ao nosso lado" ou "o lado de Deus". O nome pelo qual se popularizaria, entretando, seria o de Umbanda.
Depois outros humildes se incorporariam a esta seara, boiadeiros, baianos, cangaceiros, marinheiros, ciganos, crianças e aqueles que dispostos a ganhar luz, e resgatar profundo erros para com a humanidade aceitam os trabalhos mais árduos nas trilhas mais escuras da espiritualidade, os exus e pombas giras.
 A Umbanda é a mais brasileira das religiões, e assim como o Kardecismo tem a Jesus como seu mestre supremo e mentor maior, mas ela conversa de forma mais simples com os mais pobres, os mais humildes, os menos letrados; aqueles que às vezes estão tão embrutecidos que não conseguem entender as palavras de uma prece, mas conseguem entender a luz de uma vela, o cantar de um ponto o toque ancestral de um tambor. Fundir Kardec e a Umbanda é quase uma necessidade dos dias de hoje. O melhor de dois mundos. Pois a codificação do Kardecismo tem uma doutrina e um conhecimento científico maravilhosos, e a Umbanda trás em si a tradição dos povos que formaram este nosso imenso país. Uma lembrança de luta e de humildade, e acima de tudo um exemplo único da capacidade de perdão e superação do ser humano em Cristo, pois aqueles que um dia despojados de seu solo, de suas famílias, de seus ancestrais, de sua dignidade, mostram que jamais foram despojados de sua humanidade e hoje aqui estão, livres das correntes do rancor ou da vingança cheios de amor libertador, com o peito aberto em um abraço espiritual para nos ajudar; nos estendendo a mão.


Teologia Comparada Parte 9.
Antes de entrarmos nesta parte; sugiro a cuidadosa leitura dos textos nos sites abaixo.

[...] "- Se julgam atrasados estes espíritos dos pretos e dos índios, devo dizer que amanhã estarei em casa deste aparelho (o médium Zélio), para dar início a um culto em que esses pretos e esses índios poderão dar a sua mensagem, e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E, se querem saber o meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim."
O médium vidente insistiu, com ironia: "- Julga o irmão que alguém irá assistir ao seu culto?" Ao que a entidade respondeu: "- Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei!" [...]
[...] Às 20 horas, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas, declarando que, naquele momento, se iniciava um novo culto em que os espíritos dos velhos africanos, que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos do Brasil poderiam trabalhar em benefício dos seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. A prática da caridade (amor fraterno), seria a tônica desse culto, QUE TERIA COMO BASE O EVANGELHO DE CRISTO E COMO MESTRE SUPREMO, JESUS [...]
(as maiúsculas na última frase são destaque do autor deste artigo)

O objetivo destas MAIÚSCULAS é fazer uma observação muito importante:
Ao contrário de todos os cultos afro-brasileiros anteriores, com médiuns recebendo desencarnados ou Orixás, não estamos mais falando de sincretismo; não se trata de encontrar semelhanças entre Orixás e Santos Católicos para permitir o culto aos Orixás de forma velada. A Umbanda ao ser criada se declara CRISTÃ, fundamentada no Evangelho de Cristo.
Mas porquê isso é tão importante?
Porque naquele momento de sua criação a Umbanda era uma religião mediúnica, de intercâmbio entre desencarnados (preferentemente negros e índios) e de base cristã.
O Caboclo das Sete Encruzilhadas ao criar a Umbanda, deu-lhe um Estatuto o Evangelho de Cristo. Alguns dirão que ao mencionar Evangelho de Cristo o Caboclo e Ex-Jesuita não se referia aos Evangelhos Católicos, mas isso nunca foi expressamente declarado pelo espírito e por tanto é inferência.
Ao fazer isso, o fundador da Umbanda estabelece como base dogmática da religião o Evangelho de Cristo, e consequentemente individualiza as entidades cristãs dos Orixás, diferencia sem excluir ou discriminar, mas deixa claro Jesus não é Oxalá. Para entender isto basta comparar histórias sobre ambos.
Houve e ainda há muita gente ignorante tentando “branquear” a Umbanda. Os sucessivos congressos sobre Umbanda tentaram de muitas formas dar “nobreza” à religião; retirando-lhe as raízes africanas e tentando estabelecer suas bases no Oriente ou até na própria Atlântida!!!
Alguns bem ou mal intencionadamente tentam codificar a Umbanda. O que as décadas já provaram seria um erro, erro igual ao que deu origem à própria Umbanda.
No engessamento ideológico do Kardecismo; encontrou-se a necessidade da Umbanda, por tanto engessar a Umbanda ainda tão jovem seria insensato. Lembremos que as principais religiões da terra, levaram décadas ou até séculos para serem codificadas.
Outra coisa sobre as religiões codificadas é que, no momento em que se codificam, criam imediatamente uma casta de controladores, os escribas, que começam a se achar os únicos conhecedores da religião, manifestações contrárias a seus interesses começam a ser tratadas como heresia, feitiçaria etc. Este efeito aconteceu no Judaísmo, Islamismo e no Cristianismo. No Hinduísmo curiosamente os maiores intérpretes da palavra sagrada são os Brahmanes os que se auto-localizaram no ponto mais alto do regime de Castas, e ainda por serem pessoas “sagradas” estão impedidos de trabalhar e devem ser sustentados pelas outras castas, interessante que são os mais ricos e são os principais defensores do sistema de Castas em nome de Brahma (Deus Criador).  Na Idade Média, a razão da reforma protestante foi justamente retirar esse poder da Igreja Católica, ao traduzir a Biblia do Latim, permitia-se que cada um fizesse sua interpretação dos textos, seu próprio estudo, tirou-se o poder da Igreja então.
Toda tentativa de codificar a Umbanda, ainda que seja visando a sua respeitabilidade e aceitação pode ser perigosa, principalmente quando conduzida de forma individual por este ou aquele autor, por mais estudado que seja. Vejam o caso da Igreja Católica, definhando diante das mudanças sociais e impossibilitada de se renovar devido ao caráter “sagrado” atribuído e imposto por séculos a muitas de suas escrituras, e que poderiam ser facilmente ajustadas diante da visão pura e simples do Novo Testamento que acolhe, não condena; que abraça não discrimina; que perdoa não vinga.
Axé, que Oxalá nos abençoe a todos.

Teologia Comparada Parte 10.

Para podermos avançar no entendimento desta parte devemos então fazer um resumo rápido de tudo que vimos até hoje. No Oriente Médio o Judaísmo dá origem ao Cristianismo (Cristo era Judeu) e 500 anos após Maomé cria o Islamismo.
Ambas religiões Cristianismo e Islamismo herdam do Zoroastrismo o conceito de forças opostas bem e mal, e acabam dando forma à figura do Demônio.
O Cristianismo que, até então era só o Catolicismo, se divide em Católico Apostólico Romano e Ortodoxo.
O Cristianismo em sua expansão acaba incorporando em seu bojo diversas tradições de religiões pagãs antigas, como celebrar o nascimento de Cristo na época do aniversário do Deus Sol ou Mithra ou Brahma, além de outras alegorias. Toda e qualquer divindade pagã antiga que não pudesse ser sincretizada, a exemplo das associações de divindades femininas com a Virgem Maria, foi demonizada; como o Deus galhudo dos Celtas, a Serpente dos Maias, o Deus Pan dos Gregos ou Exú dos africanos.
Ainda assim, a Umbanda propriamente dita criada em Novembro de 1911 pelo Jovem Zelio foi formalmente declarada por seu criador manifesto o Caboclo 7 Encruzilhadas como Cristã e seguidora do Evangelho de Jesus Cristo.
É muito importante que façamos essa distinção pois desde aquele momento, até os dias de hoje a Umbanda mudou muito adquiriu novas características e recebeu novos fundamentos.
Nosso objetivo a partir deste estudo é entender em primeiro lugar, como era a Umbanda criada por Zelio e o Caboclo 7 Encruzilhadas para comparar com o que praticamos hoje. Quais elementos foram incorporados com o passar do tempo, de onde vieram, qual sua importância? Vamos tirar o caráter supersticioso de alguns fundamentos e ir para suas origens.
Um exemplo se refere a uma tradição de algumas casas que impedem mulheres no período menstrual de participar dos trabalhos. Essa é uma tradição herdada do Candomblé. Houve razões para tanto e tais razões demonstram que isso hoje pode ser necessário só em alguns casos. A razão primordial era a questão de que o Terreiro é um solo sagrado e por tanto não se pode derramar sangue humano nele; essa regra sugere que a espiritualidade já antevia que algumas roças teriam filhos de povos inimigos e tentavam evitar uma tragédia durante o transe mediúnico. Ao tornar o solo sagrado ninguém afrontaria os Orixás. Naquele tempo havia poucas formas eficientes de conter o sangramento periódico e na hora da dança as mulheres poderiam derramar sangue no terreiro. Algumas casas permitiam que a mulher fizesse o atendimento desde que sobre folhas de mamona ou bananeira, como modo de prevenir o derramamento. Hoje os absorventes femininos são eficientes e permitem o trabalho sem esse acontecimento, aí caberá ao sacerdote avaliar se a médium tem reais condições para um trabalho prolongado em uma época em que seu desgaste é maior e seu humor pode estar alterado.

Além disso, tentar compreender e explicar a origem de diversos fundamentos da Umbanda, de onde vieram, porquê se realizam, quais as raízes. Assim, poderemos não só entender, mas explicar e consequentemente fazer respeitar essa jovem ancestral de todos nós a Umbanda.