Teologia Comparada Parte 1.
Para poder entender, respeitar e aprofundar os conhecimentos
sobre os fundamentos da Umbanda nos dias de hoje, devemos entender a evolução
das religiões ao longo do desenvolvimento da humanidade.
Segundo Kardec; a Fé deve ser raciocinada, e obviamente seria uma falácia raciocinar sobre qualquer fé a partir de uma única perspectiva. Ou seja, para que se possa questionar a fé é importante que eu não me limite a ler somente livros que a defendam ou que dela provenham.
Passo a explicar; as religiões em geral, cada uma tem uma perspectiva diferente do universo, o enxergam através de um filtro próprio e tendem a querer que os outros vejam da mesma forma.
Imagine duas pessoas que têm diante de si uma folha de papel amarela, uma delas usa um óculos de lentes azuis a outra um óculos de lentes vermelhas. Você terá um enxergando o papel na cor verde o outro na cor laranja, ambos terão certezas absolutas sobre suas perspectivas, a partir de seus próprios filtros e, apesar de que verde e laranja serão verdades absolutas para cada um; a realidade é amarela. Somente quando os dois depuserem suas lentes ou seus filtros (axiomas, dogmas, paradigmas, preconceitos, orgulho, sentimento de superioridade etc.), é que poderão olhar para o amarelo e enxergá-lo como realmente é. Curiosamente, se alguém sem filtros se aproximar e disser que o amarelo é amarelo, os dois se voltarão em comum contra o terceiro que "ousa" trazer uma terceira visão, ainda que esta seja a realidade. Ou seja, uma terceira verdade, esta sim condizente com a realidade.
Tratamos de demonstrar aqui que uma coisa é acreditar profundamente em algo e propagar isso com total sinceridade e outra é que este algo seja realmente verdade.
Isto posto pode-se pedir ao caro leitor, que tente conduzir as futuras leituras com mente aberta e sem filtros para entender as sucessivas leituras que irão desembocar, sem jamais esgotar, nos fundamentos da Umbanda moderna. Cabe aqui destacar que toda religião tem fundamentos; alguns destes se perdem na antiguidade junto com suas razões; por não poderem mais ser explicados ou justificados são chamados de "mito". Um exemplo disto é a tradição judaica do rito de circuncisão, que nada mais é que uma operação de fimose praticada pelo rabino no menino recém nascido. O ato é tido como sagrado a tal ponto que mesmo sendo uma ferramenta de detecção dos judeus pelos nazistas; continuou sendo praticado nos judeus nascidos durante a Guerra. Curiosamente, milênios após a instituição do sacramento, descobre-se que pessoas que tem a fimose cortada tem 90% menos chances de contrair DSTs por facilitar a higiene. Obviamente que o Plano Maior quando institui tal sacramento para os judeus, não tinha como explicar micróbios, bactérias ou micro-organismos, então; se torna axioma. É assim porque Deus quis assim.
E por falar nisso, para que possamos embarcar em nossa viagem pela história das religiões e desembarcar na mais nova e ao mesmo tempo mais ancestral delas, a Umbanda;
Segundo Kardec; a Fé deve ser raciocinada, e obviamente seria uma falácia raciocinar sobre qualquer fé a partir de uma única perspectiva. Ou seja, para que se possa questionar a fé é importante que eu não me limite a ler somente livros que a defendam ou que dela provenham.
Passo a explicar; as religiões em geral, cada uma tem uma perspectiva diferente do universo, o enxergam através de um filtro próprio e tendem a querer que os outros vejam da mesma forma.
Imagine duas pessoas que têm diante de si uma folha de papel amarela, uma delas usa um óculos de lentes azuis a outra um óculos de lentes vermelhas. Você terá um enxergando o papel na cor verde o outro na cor laranja, ambos terão certezas absolutas sobre suas perspectivas, a partir de seus próprios filtros e, apesar de que verde e laranja serão verdades absolutas para cada um; a realidade é amarela. Somente quando os dois depuserem suas lentes ou seus filtros (axiomas, dogmas, paradigmas, preconceitos, orgulho, sentimento de superioridade etc.), é que poderão olhar para o amarelo e enxergá-lo como realmente é. Curiosamente, se alguém sem filtros se aproximar e disser que o amarelo é amarelo, os dois se voltarão em comum contra o terceiro que "ousa" trazer uma terceira visão, ainda que esta seja a realidade. Ou seja, uma terceira verdade, esta sim condizente com a realidade.
Tratamos de demonstrar aqui que uma coisa é acreditar profundamente em algo e propagar isso com total sinceridade e outra é que este algo seja realmente verdade.
Isto posto pode-se pedir ao caro leitor, que tente conduzir as futuras leituras com mente aberta e sem filtros para entender as sucessivas leituras que irão desembocar, sem jamais esgotar, nos fundamentos da Umbanda moderna. Cabe aqui destacar que toda religião tem fundamentos; alguns destes se perdem na antiguidade junto com suas razões; por não poderem mais ser explicados ou justificados são chamados de "mito". Um exemplo disto é a tradição judaica do rito de circuncisão, que nada mais é que uma operação de fimose praticada pelo rabino no menino recém nascido. O ato é tido como sagrado a tal ponto que mesmo sendo uma ferramenta de detecção dos judeus pelos nazistas; continuou sendo praticado nos judeus nascidos durante a Guerra. Curiosamente, milênios após a instituição do sacramento, descobre-se que pessoas que tem a fimose cortada tem 90% menos chances de contrair DSTs por facilitar a higiene. Obviamente que o Plano Maior quando institui tal sacramento para os judeus, não tinha como explicar micróbios, bactérias ou micro-organismos, então; se torna axioma. É assim porque Deus quis assim.
E por falar nisso, para que possamos embarcar em nossa viagem pela história das religiões e desembarcar na mais nova e ao mesmo tempo mais ancestral delas, a Umbanda;
quem ou o quê é Deus?
Ao fazer esta pergunta milhares de respostas vêm à tona, mas
esta pergunta objetiva uma resposta mais simplista, menos filosófica por parte
do leitor. Supondo que o interlocutor aqui acredite em Deus e supondo que Deus
decidisse Se apresentar para esse interlocutor de forma a ser reconhecido, como
Ele o faria? Que forma tomaria? Como Se manifestaria?
Pede-se ao leitor que se faça esta mesma pergunta. "Como
apareceria Deus para mim?"
Até amanhã quando vamos aprofundar no conceito de Deus ao longo
da história da humanidade.
Axé, com as bençãos de Oxalá.
Teologia Comparada. Parte 2
Olá.
No dia de ontem esta página lançou o desafio ao interlocutor
de se perguntar como Deus apareceria para cada um caso quisesse dar-se a
conhecer.
Obviamente que a primeira imagem que veio à mente de cada um
depende basicamente de suas crenças mais profundas.
Alguns podem tê-lo imaginado como aquele senhor musculoso de
barbas e cabelos ao vento com o indicador esticado a coroar a Capela Sistina em
Roma, outros talvez imaginem o próprio Cristo. Se a pergunta fosse feita a um
Grego da Idade do Ouro, ele seria um ancião vibrante com raios nas mãos, e para
um Nórdico da Idade Antiga; provavelmente seria também um velho, mas caolho e
com um corvo nos ombros. Um Indiano talvez visualizasse algum ser de múltiplos
braços ou com cabeça de elefante e por aí além.
Esta pergunta tão simples é talvez de uma profundidade
imensa pois reflete exatamente quem e como somos. Pois Deus muda junto conosco.
Ou pelo menos sua “personificação”.
É disso que vamos falar. Segundo a Gênese (que é comum para
todas as grandes religiões do Ocidente; Islamismo, Cristianismo e Judaísmo)
Deus nos fez à sua imagem e semelhança. Mas curiosamente, nós o conceituamos à
imagem e semelhança de nossas necessidades, isto desde o princípio da razão
humana.
Para entender o argumento acima, precisamos viajar para trás
no tempo, logo após o momento em que o homem desce das árvores e começa a andar
ereto. Naquele momento a ciência diz que o cérebro humano era incapaz de
abstrações e como uma criança de menos de 3 anos só podia lidar com objetos
concretos, ali ainda não existe Deus, ali não existe sequer Eu ou Nós ainda.
Linguagem? Somente grunhidos, gestos, gritos e algumas onomatopeias
significando algum animal.
Curiosamente naquele momento o que faz a diferença para o
homem se destacar do resto dos animais ainda não é o cérebro, mas o fato dele
ter polegares opostos que lhe permitem manipular as coisas para criar
ferramentas para a guerra, a caça e nada mais.
Não existia agricultura, nem sequer domínio do fogo, sem uma
linguagem, os poucos conhecimentos se transmitiam através do exemplo, os mais
velhos mostravam aos mais novos como fazer. É o início da transmissão “oral”
dos conhecimentos ora pelo exemplo, ora desenhando nas paredes para ensinar. A
transmissão oral foi até o século XIX em muitos lugares a única forma de passar
os conhecimentos e, com o tempo, a moral e ética de pai para filho.
Lembremos nesta hora que nenhum dos Evangelhos Cristãos foi
escrito no próprio tempo de Cristo, o mais próximo foi datado de 200 anos
depois de Cristo, do que se deduz que os Evangelistas receberam as histórias
por tradição oral. Sem contar que o próprio Cristo doutrinou seus seguidores
através de “historinhas”; as chamadas parábolas de enorme conteúdo moral e
ético, assim como qualquer chefe de tribo desde as estepes da Mongólia às mais
profundas florestas africanas. As “historinhas” foram, por milênios, a única
forma de transmissão de sabedoria de todos os povos do mundo, inclusive do
nascente cristianismo.
Aqui uma nota curiosa, os Jesuítas ao chegar ao Brasil
tentaram unificar todas as tribos e força-las a falar um único idioma o Tupi
Guarani. Ao fazer isso e proibir os índios de falar a sua língua mãe, de seus
ancestrais, eles esqueceram a mesma; com isso toda a tradição oral e toda a
cultura de milênios perdeu-se por falta de transmissão. Matou-se culturalmente
todos os índios brasileiros. A ironia do fato é que quem se dispõe ao sagrado
resgate dessa cultura ancestral foi justamente o espírito de um Padre Jesuíta,
Don Gabriel Malagrida que na figura do Caboclo das 7 Encruzilhadas cria em 8 de
Novembro de 1911 a Umbanda, mais nova e mais ancestral das religiões
brasileiras.
Mas então; agora pergunta-se: Como era Deus antigamente? Bem
antigamente?
Isso é o que veremos amanhã!
Axé, com as bênçãos de Oxalá.
Ralf Thibes. OK
Teologia Comparada Parte 3.
Ontem comentamos que se Deus escolhesse aparecer diante de
cada um de nós provavelmente escolheria uma imagem com a qual o
identificássemos como tal. Um grego talvez visse Zeus, um Viking talvez o visse
como Odin, um Hindu talvez o visse como Shiva ou Ganesha. Mas e lá atrás, lá na
pré-história?
Os homens descobrem sua fragilidade e começam a entender que
para sobreviver devem viver em grupos, caçar e lutar em grupos pois sua chance
de sobrevivência e êxito é bem maior.
A partir daí a convivência em comum cria códigos comuns,
gestos comuns, sons comuns e esse é o começo da linguagem, da comunicação, da
necessidade de compartilhar, histórias, avisos, comandos de caça ou guerra,
localização de rebanhos, descrição de lugares etc.
Ainda não havia agricultura, comia-se o que a natureza
oferecia e o que se podia caçar. Animais grandes, para caça-los corria-se o
risco de morrer. Quanto maior o animal caçado, maior a demonstração de força do
caçador, e sua liderança sobre o resto do bando.
A primeira personificação de Deus provavelmente foi o
Animal, um ser sagrado por sua força e por trazer em si o sustento para o
bando, alimento, mas que também podia ser morte.
Cada um tinha o direito de vestir a pele do animal abatido,
quanto maior o animal maior a predominância do caçador sobre o resto do bando.
Era comum vestir os chifres do animal ou carregar suas presas no pescoço como
sinal de força.
Aí temos Deuses com formas de animais no Panteão Grego,
Egipcio (África), Celta, na Índia e nas Américas, em diversas culturas que
teoricamente nunca se conheceram entre si.
Então, naquele momento se Deus quisesse se manifestar
provavelmente o faria na forma de um animal, animal sagrado.
Posteriormente o homem aprende a dominar o fogo, e a
primeira vez que o homem tem contato com o fogo, foi através do raio, que veio
do céu e incendiou uma árvore, o homem não sabia fazer fogo, mas quando o
encontrava, tratava de conservá-lo alimentando com mais lenha. A tarefa de
manter o fogo aceso exigia constante atenção e o fogo era mantido em lugar
fixo, então cabia às mulheres manter o fogo aceso, uma vez que os homens saiam
constantemente para caçar, por outro lado, crianças não poderiam fazê-lo e
mulheres mais velhas tinham que sair à colheita de frutos, moer grãos, fazer
roupas, então o cuidado era dado para as jovens mulheres. Talvez daí o costume
em culturas antigas de que Virgens fossem guardiãs do Fogo Sagrado. Afinal, o
fogo veio dos céus. Curioso como diversas culturas, novamente falam do fogo
vindo dos céus. Temos o Titã Prometeu da mitologia grega castigado por ter
roubado o fogo do Olimpo e dado aos homens. O Popol Vuh dos Maias menciona isso
e voltando à Bilbia, até ser expulso do Paraíso o homem desconhecia o fogo, uma
das coisas aprendidas ao comer o fruto proibido do conhecimento. E Deus passou
a poder aparecer fazendo-se representar como Fogo, e assim o fez no Velho
Testamento para Moisés.
Mas o fogo é incontrolável, da mesma forma que cozinha o
alimento, protege, aconchega, ilumina, cozinha o barro dos utensílios, derrete
os metais das ferramentas e armas, o fogo fere, o fogo destrói, o fogo mata,
assim, o fogo é sempre o elemento dos deuses da guerra em quase todas as
religiões, o progresso e a guerra sempre andaram de mãos dadas na história da
humanidade.
Uma curiosidade sobre o fogo e a tecnologia é a origem do
“Mito” das grandes espadas da história, Excalibur de Arthur, La Tizona y La
Colada de El Cid Campeador, Durendal presente de Carlos Magno a Rolando da
França e outras. Até a chegada dos árabes à península espanhola no ano 711 da
Era Cristã e que durou até 1497 quando os Reis de Castela e Aragão finalmente
conseguiram expulsá-los; as espadas eram instrumentos feitos de ferro;
tremendamente pesadas para que não se partissem ao primeiro impacto. O aço
então ainda era desconhecido. Reza a lenda que um ferreiro de Damasco (Síria)
forjava uma espada ao vermelho vivo quando sofreu uma tentativa de assalto,
para defender-se o ferreiro atravessou o assaltante com a espada incandescente,
o que aconteceu é que o carbono do corpo do assassino incorporou-se ao ferro da
espada, transformando-o em Aço, como nada parecia quebrar essa espada; o
ferreiro presumiu que a alma do bandido estivesse presa à espada. A partir daí
cada vez que uma espada era feita, a mesma era “temperada” atravessando um ser
humano para capturar sua alma. Quanto mais nobre a vítima; mais nobre a espada.
Essa técnica depois foi passada aos ferreiros de Toledo, importante cidade
árabe na Espanha, que também ficou famosa no mundo antigo por sua metalurgia.
Com o tempo descobriu-se que um carneiro surtia idêntico efeito...
Mas andou-se rápido demais! Muçulmanos, Cristãos,
Monoteísmo. Será? Porquê? Desde quando?
Esse será o assunto da leitura de amanhã
Axé para todos, com as bênçãos de nosso Pai Oxalá. Ok
Teologia Comparada Parte 4
Zeus, Thor, Tupã, Xangô, todos Deuses do Trovão da Grécia,
países nórdicos, Brasil e África. Ogum, Ares, Marte, Tyr, Kali, Montu todos
Deuses da Guerra, respectivamente da África, Grécia, Roma, Países Nórdicos,
Índia e Egito.
Os temas se repetem, sejam lendas, sejam mitos alguns temas
povoaram culturas que em remotos tempos não tiveram contato entre si. Não há
uma única prova sequer de que hajam existidos dragões de verdade, no entanto
eles povoam a imaginação de diversos povos que nunca se conheceram entre si há
milênios. Desde os dragões chineses, sagrados e sábios, aos dragões ingleses,
violentos e vingativos, ao Deus supremo dos Astecas Quetzalcoatl a Serpente
Pássaro, ou a Serpente Emplumada. Se bem não há como provar que não existiram,
também fica difícil explicar como o ser humano de tantas distâncias conseguiu
conceber um ser tão díspar e tão comum
em tantas culturas. Aí temos uma nova definição para a palavra Mito; algo em
que se insiste em acreditar mesmo que não haja provas, isso claro se a crença
for do outro, porque se for a própria aí não é Mito, aí é Fé....
Mas porquê vários Deuses? E porquê um só? Ou porquê Deus?
Á medida que a raça humana se desenvolve, os grupos vão se
diferenciando. Com o advento da agricultura a humanidade começa a se dividir
basicamente em dois grupos, os nômades caçadores e guerreiros e os
agricultores, que por ficarem estáveis em suas terras, podem desenvolver
civilizações mais complexas. Curioso é observar que até as divindades desses
povos passam a ser diferenciadas. Entre os nômades caçadores, sujeitos à
intempérie e às variações da natureza, os deuses são cruéis e vingativos, de
aparência assustadora, enquanto nos povos agrícolas eles costumam ser bonitos,
mais dóceis e de natureza mais volúvel, mas menos cruel. Ex, Deuses nórdicos e
deuses gregos para comparação. Os nórdicos bem mais sombrios que os gregos.
Algumas culturas agrárias preferem uma Deusa, já que a
fertilidade é um universo sempre feminino, aí vemos um questionamento
interessante. Quem disse que Deus precisa necessariamente ser um elemento
masculino? Quem disse que Deus é Yang e não Yin ou os dois? Quase todas as
culturas antigas têm Divindades que oscilam entre o masculino e o feminino.
A partir deste momento, Deus passa a ser os elementos da
natureza que asseguram a sobrevivência, o sol (Apolo, Oxalá, Osíris), a chuva
(Iansã), a terra (Gaia, Nanã, Tonantsin), o Fogo (Xangô, Loki, Vulcano,
Hefaístos), a família (Ceres, Yemanjá, Isis), as florestas (Pã, Oxósse,
Aruanã), a sabedoria (Palas, Minerva, Ganesha, Odin) os Rios e Mares (Iara,
Poseidón, Netuno, Yemanjá, Oxúm, Aegir, Ptah).
Todos os panteões divinos, sejam eles greco-romano, nórdico,
egípcio, hindu, ou africano, colocam os Deuses em relações de parentesco uns
com outros, sendo que todos eles têm características humanas extremamente bem
definidas, em virtudes e defeitos, mas todos dotados de superpoderes que lhes
permitem interferir na natureza, e curiosamente no livre arbítrio das pessoas.
São deuses, ciumentos, vingativos, namoradores, conquistadores, capazes de
grandes gestos de amor ou de ódio, e que intervêm diretamente na vida dos
povos.
Das relações entre eles e os humanos, vêm as sucessivas
lendas ou histórias ou mitos que durante milênios ajudaram a formar a
personalidade das pessoas, incutindo-lhes os valores necessários para sua
evolução moral e ética ao longo do tempo.
Falando nisso, vai aqui mais uma curiosidade: como já
mencionamos anteriormente, lá pelo ano 700 a Espanha foi invadida por Mouros,
ou seja Árabes do norte da África de religião Islâmica e que lá permaneceram
por quase 800 anos. Considerando sua expulsão perto do ano 1500, podemos dizer
que os muçulmanos ocupam o norte da África há uns 1300 anos ou mais.
Ou seja que uma imensa quantidade dos negros que foram
trazidos como escravos da África ou eram ou tiveram contato com os Muçulmanos,
na sua imensa maioria, alfabetizados, com conhecimentos matemáticos e
obviamente religiosos. A partir desse prolongado intercâmbio, existe uma teoria
de que Orixalá e Oxalá como nomes do Orixá pai de todos, tenha recebido
influência do Árabe onde a palavra Deus é Allah. Tanto é assim que as
expressões Insh’Allah e Oj’Allah significam ambas “Queira Deus”, e ambas
permanecem tanto no Espanhol atual como no português arcaico (Ojalá / Oxalá)
significando “tomara” ou ‘tomara que”. A palavra Xa como “regente” também
aparece no árabe, Xa era o imperador do Irã (país muçulmano). O
simples fato de se colocar um Orixá acima de todos pode ser entendido como uma
tentativa de ir em direção a uma religião monoteísta em função dessa
influência, dependendo da proximidade ou não com esse mundo árabe muçulmano,
monoteísta, colonialista e jihadista. Cabe destacar que o Islam está na África
pelo menos 700 anos antes do Cristianismo tentar chegar lá com único objetivo
arrecadador, explorador, escravizador
Mas então; quais as vantagens do Monoteísmo ou do
Politeísmo? Isso será visto na leitura de amanhã onde se estudarão as guerras
ditas Santas.
Teologia Comparada Parte 5.
Talvez esta conversa devesse começar com um pequeno
lembrete: Independente de qual seja nossa crença; de qual seja o nome de nosso
Deus ou Deuses, com certeza a Criação não tem qualquer responsabilidade sobre
nossos atos neste mundo. Não podemos culpar Allah pelo atentado às Torres
Gêmeas ou a Cristo pela caça às bruxas que matou tantos inocentes.
Feito este aparte, continuemos:
Em “O Livro de Ouro da Mitologia” de Thomas Bulfinch, o
autor ao questionar a veracidade ou não dos fatos referentes à Mitologia Grega
apresenta várias Teorias.
Na Teoria Histórica, todos os personagens teriam sido seres
humanos reais, e as lendas e tradições fabulosas seriam apenas acréscimos e
embelezamentos, surgidos em épocas posteriores. Assim, a história de Eolo, rei
e deus dos ventos, teria surgido a partir da vida de algum governante de alguma
ilha do mar Tirreno que tendo reinado com justiça e piedade, ensinou os nativos
o uso da navegação a vela e como predizer pelos sinais atmosféricos, as
mudanças do tempo e dos ventos. – Isto seria muito similar ao que os estudiosos
pensam dos mitos dos Orixás, chefes de tribos que marcaram na história pelo bem
ou pelo mal praticado.
Na Teoria Alegórica, todos os mitos da Antiguidade eram alegóricos e simbólicos contendo alguma verdade moral, religiosa ou filosófica, ou algum fato histórico sob a forma de alegoria, mas que, com o decorrer do tempo, passaram a ser entendidos literalmente. Assim Saturno que devora os filhos seria uma analogia do Tempo que destrói tudo que cria. - Neste caso, muitos ensinamentos poderiam ser atribuídos a figuras históricas a través de parábolas ou historinhas visando valorizar o ensinamento, muitas passagens educativas em vários povos são atribuídas a Buda, Krishna, Oxalá ou Jesus, sem que tenhamos absoluta certeza de que realmente ocorreram, mas que obviamente a profundidade de seu ensinamento aumenta ao lhes serem atribuídas.
Mas a mais interessante talvez seja a Teoria Bíblica; de acordo com esta teoria, todas as lendas mitológicas têm sua origem nas narrativas das escrituras, embora os fatos tenham sido distorcidos ou alterados. Assim, Deucalião é apenas um outro nome de Noé, Hércules de Sansão, Árion de Jonas. O Dragão que guarda os Pomos de Ouro era a serpente que enganou Eva. – O interessante desta teoria é saber qual copiou de quem, porque se a lenda original for a Grega então a Bíblia nada teria de sagrada seria somente uma tentativa de compilar a tradição oral vigente do Oriente Médio. Agora se as escrituras forem a fonte, então Homero definitivamente teve contato com as sagradas escrituras. O que é plausível pois Homero viveu no Séc VIII antes de Cristo, quase mil anos após a época que se acredita que Abraão fundou as bases do Judaísmo. Conforme o Gráfico.
Curioso observar que durante quase mil anos o Judaísmo foi a
única religião monoteísta do mundo, e que mesmo quando ainda minoritária, sem terra
e perseguida; conforme a própria Bíblia relata, era incapaz de viver em paz com
seus vizinhos.
Se formos analisar a fundo as grandes guerras da
antiguidade, aquelas baseadas em fundamentação religiosa (ainda que sempre a
questão da religião fosse mero argumento para encobrir motivos econômicos);
veremos que sempre são entre as referidas religiões monoteístas, ou tem uma
delas envolvida em perseguição a outra politeísta.
Por quê nunca vemos guerras entre religiões politeístas?
Talvez a resposta esteja em que para uma religião politeísta
é sempre mais fácil aceitar um novo Deus ou Deusa, desta forma divindades
migraram do Panteão Grego para o Egípcio e vice-versa, Hator e Ápis eram Vaca e
Boi sagrados assim como na Índia ainda são. As religiões monoteístas não se
combatem porque seus Deuses são locais, e quando são Deuses de uma mesma
linhagem (Júpiter e Zeus, Athena e Minerva) acabam se absorvendo e sendo
cultuados juntos.
Um caso bastante recente disso (09 de Dezembro de 1531) é o
caso do Milagre de Guadalupe, onde a imagem milagrosa da Virgem Maria aparece
totalmente tomada por símbolos astecas em sua vestimenta, como a fita roxa que
simboliza para os astecas a gravidez, ou a flor de quatro pétalas desenhada no
ventre para indicar que Deus ali estava, ou os cabelos soltos e escorridos que
só as virgens podiam usar nos costumes da época, mas ao estar sobre a Lua e com
estrelas em seu manto, ela era também Tonantzin a Deusa Mãe de Quetzalcoátl (A
serpente pássaro) o Deus maior da América Central, curiosamente Tonantzin não é
um nome, mas um apelativo e quer dizer justamente Nossa Senhora. As razões
inexplicáveis, mesmo para a ciência atual para o aparecimento da imagem tão
perfeita que até hoje seria impossível de ser reproduzida em iguais condições,
mostram claramente o intento da Espiritualidade Maior de fundir duas religiões,
uma Politeísta outra Monoteísta dois povos completamente diferentes, criando um
elo comum de amor que pudesse evitar ainda mais guerras e derramamento de
sangue. Agora todos tinham algo em comum, tinham a mesma Mãe...
Na nossa próxima conversa, vamos continuar analisando o
caráter belicoso e “colonialista” dos seguidores das religiões monoteístas e
seus múltiplos embates na história e começar a entender um pouco o Politeísmo
Africano e como ele chega ao Brasil.
Até Lá, Axé, Que Oxalá abençoe a todos.
Teologia Comparada Parte 6.
Bom na última leitura pudemos observar historicamente que a
imensa maioria das guerras ditas Santas envolveram ao menos uma das três
religiões monoteístas lutando entre si ou contra as politeístas.
No gráfico das religiões monoteístas publicado junto à
conversa anterior, podemos ser levados ao engano de que o Judaísmo seria a mais
antiga das religiões o que é falso. Na verdade a mais antiga das religiões é o Hinduísmo. Quem garante é o teólogo Rafael
Rodrigues da Silva, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo. A
disputa com as religiões do antigo Egito e o Zoroastrismo (surgido na Pérsia) é
acirrada, mas a crença adotada por 80% da população da Índia ganha. Os
primeiros textos sagrados do Hinduísmo, os Vedas, foram escritos há mais de 3
500 anos. As origens da religião, porém, têm raízes na pré-história. O
Hinduísmo não teve um fundador determinado, como o Islamismo de Maomé, e admite
total liberdade de crença, reunindo seitas que cultuam um grande número de
deuses e divindades – os mais importantes são Brahma (que representa o
princípio criador), Vishnu (deus do sol) e Shiva (das tempestades). Apesar de
mais antigo, o Xamanismo não pode ser considerado uma religião, afirma
Rodrigues da Silva, pois não possui uma organização clara, com doutrina
(conjunto de princípios) e clero (entidade com sacerdotes).
O autor deste artigo
Teologia Comparada discorda desse critério de exclusão que muitas vezes é
também utilizado para desmerecer a Umbanda e o Candomblé como religiões e
coloca-las no nível de seita.
O Xamanismo é, no
mínimo, a manifestação religiosa mais antiga conhecida pelo homem; curiosamente
não pode ser chamada de politeísta pois para o Xamanismo não existem Deuses,
existem espíritos ancestrais. Sua figura central é o xamã, curandeiro tribal
que, segundo acreditam os seguidores, é capaz de visitar o mundo dos espíritos
e resgatar as almas de pessoas doentes. O Xamanismo é a primeira, mais antiga e
mais abrangente manifestação religiosa do homem e ainda é praticado em diversas
regiões do planeta ás vezes chamado de curandeirismo, feitiçaria, pajelança...
Acredita-se que tenha iniciado nas estepes russas ainda antes da última
glaciação e se difundiu por todo o Nordeste da Ásia; atravessou a “ponte de
gelo” do Estreito de Bering entre Ásia e América e dominou por milênios do
Canadá ao sul do Chile, tendo sido a base para todas as religiões das regiões
montanhosas do continente americano. O Xamanismo acreditava que todo ser vivo
tinha alma, e que os locais da natureza tinham animais protetores ou almas de
animais protetores (animismo). O Animismo existe até hoje em diversas
mitologias elfos, duendes, gnomos, leprechauns, ninfas, faunos, salamandras,
saci, curupira... Ocupa um espaço tão
grande na formação milenar de nossa personalidade como espécie ou grupo social,
inconsciente coletivo que todos os povos e todas as religiões do ocidente não
conseguem evitar que seus membros recorram a uma de suas manifestações em
momentos de desespero, Jung reconhece essa influência ao falar de nossas
sombras e nossos arquétipos. O
Zoroastrismo, por sua vez, é a mais antiga religião criada por um fundador
conhecido, o profeta Zoroastro, ou Zaratustra. Está quase extinta, não fosse
pela presença de alguns representantes, homens tidos como santos no Norte da
Índia que ainda seguem essa religião, famosos por sua benemerência e
desprendimento. Essa religião é a primeira a manifestar a famosa dicotomia bem
versus mal no mundo e a dividir o universo entre duas forças uma criadora,
simbolizada pelo sol e pelo fogo e outra destruidora simbolizada pelas trevas
dá-se a isso o nome de maniqueísmo. Pode ter saído dela o conceito de “demônio”
que permeia o cristianismo e o islamismo. Curiosamente a palavra demônio vem do
grego “daimon” que quer dizer espírito.
Os Zoroastristas não têm
templos e não cultuam imagens, realizam suas manifestações em altas montanhas
para adorar o sol e seus sacerdotes são chamados magos. Essa religião foi
fundada na Pérsia e dominou todo o mundo árabe até ser varrida do mapa pelo
Islamismo que obrigou todos os seus subjugados a renunciar à fé ou a fugir das
áreas invadidas (em nome de Allah). Mas, considerando que o Islam é ainda mais
novo que o Cristianismo; esse fato veio a ocorrer já em tempos mais recentes
por assim dizer. Na época do nascimento de Cristo; o Zoroastrismo era uma
religião enorme, poderosa e amplamente difundida em todo o mundo árabe e boa
parte da Índia. Diz o Novo Testamento que três de seus mais poderosos
sacerdotes foram visitar Jesus em seu nascimento. Os famosos escritores de
biografias atuais, veriam nesta abordagem por parte dos ”biógrafos” de Jesus,
como um adendo inofensivo à história mas que permitiria no futuro que os leitores
acreditassem que os mais sábios representantes da antiga religião se curvaram
perante o novo poder que chegava. Nem os evangelistas, nem os biógrafos estavam
lá no momento, portanto acreditar que os Reis Magos lá estiveram realmente é
hoje um Ato de Fé, ou um mito dependendo do ponto de vista.
Mas voltemos ao
politeísmo e observemos que além do zoroastrismo e das religiões monoteístas;
essa questão do bem e do mal, da dicotomia, do maniqueísmo que permeia as
quatro religiões não existe nas religiões politeístas. Mesmo aquelas que tem
forças opositoras, como o Loki dos nórdicos, Tifon dos egípcios, eles são mais
uma força, e a eles pese à sua oposição às forças criadoras; não se lhes coloca
exatamente como o mal, mas como forças de renovação através da destruição.
Enfim, nas religiões politeístas não existe demônio. Assim como não existe
demônio para o Espiritismo, nem para sua filha rebelde a Umbanda nem para sua
maior influenciadora o Candomblé.
Nem o TAO oriental
aquela esfera com duas meias luas uma branca e outra preta representando o
equilíbrio do universo fala disso, pois o símbolo do TAO representa justamente
a idéia que os opostos são partes de uma força criadora única,
masculino-feminino, quente-frio, luz-escuridão. Mas não Bem ou Mal porque para
os orientais todo Mal é aprendizado e no longo prazo será parte do caminho para
a perfeição, portanto o mal só é mal apreciado no momento, temporariamente. O
mal é um degrau na direção do todo ou da perfeição.
Curiosamente todas estas
religiões orientais, politeístas, carregam dentro de si um conceito de retorno
sobre a ação em igual polaridade, bem por bem, mal por mal. Recebe diversos
nomes, resgate, lei de ação e reação, lei do retorno ou o mais antigo herdado
do Oriente: o Carma. Se formos analisar friamente o conceito de carma, e
partindo que todo mal praticado retorna ao praticante de forma a moldá-lo para
o bem, então o mal não seria propriamente mal, mas a escolha de um caminho mais
doloroso em direção ao impreterível bem, afinal ninguém deseja sofrer eternamente.
Na próxima conversa
vamos aprofundar em um tema bastante interessante e que tem rendido muito
dinheiro para alguns ao longo da história; o Demônio.
Axé, que Oxalá nos
abençoe.
Teologia comparada:
Parte 7
No Capítulo anterior
conversamos sobre a dicotomia do bem e do mal em contraposição à Lei do Carma.
Observemos que esse
conceito de resgate ou punição, podia acontecer ora por despertar a ira de
algum dos muitos Deuses, ora por entender que tudo que vai volta. Esse temor ao
julgamento divino permeia também nosso inconsciente de muitas formas; a mais
ingênua das crianças, quando erra, é incapaz de atuar naturalmente para
esconder sua culpa e todo ser humano de alguma forma se denuncia na hora de
mentir. Todos tememos inconscientemente uma força maior, todos tememos a
punição, todos tememos, o inferno, o umbral o Hades.
Um detalhe interessante
é a evolução da figura do demônio ao longo da história, Lúcifer ou Satanás ou
Satán, ou como se chame não existe de forma explícita para os judeus. Nos
textos antigos dos Judeus, a serpente é tão somente o mais astuto dos animais
que convence Eva a sucumbir à sua própria curiosidade como o fruto proibido; os
primeiros cristãos superpuseram o conceito zoroastrista do Mal personificado e
atribuíram-no à serpente. Lúcifer segundo a tradição judaica utilizada na
confecção da Bíblia católica, teria sido um título de honra de um Rei
Babilônico que teria sido morto (caído) em uma guerra por arrogância; o resto
foi questão de tradução para que a figura do “anjo” caído criasse força. Outras
influências como a da guerra dos Deuses e Titãs da mitologia grega podem ter
alimentado a ideia de anjos caídos mas na tradição judaica não existe um
demônio, ele é invento dos cristãos. Já
nos primórdios do cristianismo cabia a ele uma posição semelhante à de Hades ou
Plutão a divindade greco-romana que guardava as almas dos mortos no submundo.
No caso do demônio cristão da baixa idade média, ele guardava as almas dos
impuros e os mantinha em eterno suplicio. Como fica evidente no clássico A
Divina Comédia de Dante Alighieri. Convenientemente, à medida que a Igreja
Católica precisa financiar as Cruzadas, começa a buscar meios de aumentar sua
arrecadação, São Patricio na Irlanda institui a necessidade da Confissão a
partir das epístolas de Paulo e assim a igreja católica passa a controlar os
mais sombrios segredos de todas as nobrezas da Europa. O demônio ali, deixa de
ser mero guardião dos infernos e sincretiza-se com a astuta serpente da
tentação do paraíso, o demônio passa a ser o Grande Tentador, aquele que luta
contra Deus por nossas almas, aquele cujo interesse foi curvar a Jesus e falhou
passa de repente a correr atrás dos filhos; e o fiel passa a precisar como
nunca da Igreja para protege-lo das tentações do mal.
A Igreja começa a caçar
ostensivamente o “demônio”, a Santa Inquisição ou Santo Ofício começa a queimar
curandeiras, parteiras, cientistas, sábios, sacerdotes de outras religiões, quaisquer
opositores, ciganos e judeus por feitiçaria em nome do Demônio, escrevem-se
livros sobre como identificar pessoas demonizadas, Malleus Maleficarum foi o
principal deles. Utilizado inclusive para justificar a escravidão no Brasil,
fator fundamental para o advento do Candomblé no Brasil, sua perseguição e, posteriormente,
da criação da Umbanda. Nesse Período o Demônio ganha forma (imagem), a de todas
as manifestações divinas politeístas, seja o Deus Galhudo dos Celtas, seja o
Deus Pan dos pastores greco-romanos (com pequenos chifres e pés de bode), ou o
símbolo da Alquimia (mãe da ciência) que em uma mistura entre ciência, magia,
filosofia e conhecimentos ocultos desenvolveu uma imagem que sintetizava todo o
conhecimento antigo chamada BAPHOMET que lembra um bode. Este símbolo foi
apresentado para o Ocidente, segundo a própria igreja católica, por um grupo de
sacerdotes católicos, padres guerreiros chamados Cavaleiros Templários. Estes
se tornaram uma ordem tão poderosa em termos militares, financeiros e
principalmente de conhecimentos do oculto e do sagrado, que o Papa se uniu ao
Rei da França Felipe IV e, em 13 de
Outubro de 1307 (origem da lenda de que Sexta Feira 13 dá azar), matou a todos
os membros da ordem; mandando inclusive queimar em praça pública
seu principal Mestre Jacqes de Molay. Se bem pouco se sabe sobre a Maçonaria e
o pouco que se sabe não se comprova; muitas lendas relacionam a maçonaria aos
templários e há uma lenda antiga em que um detrator da maçonaria relacionou a
imagem do Baphomet com os maçons, visando demonizar a instituição e inclusive
dar à Igreja Católica motivos para persegui-la. Resumindo, o Demônio, que até
então não existia, deixa de ser um belo anjo para ser uma figura triste de pés
e cabeça de bode, rabo e asas de morcego, podendo então justificar toda e
qualquer incursão catequizadora sobre qualquer religião politeísta que adorasse
alguma divindade com pelo menos uma dessas características. “Em nome de Jesus
vamos acabar com os adoradores do demônio”.
Esta deve ser, de longe, a frase que mais antecedeu barbaridades no
ocidente nos últimos mil anos.
Um detalhe importante,
se formos considerar como verdade muitas novas denominações exotéricas que
baseiam suas fórmulas de sucesso no poder das palavras, nas chamadas criações
astrais, programação neuro-linguística e outras formas de criação através da
força do pensamento; já são quase 2 milênios em que metade da população mundial
vem acreditando em um demônio, atribuindo-lhe poderes e capacidades. É muito
provável que o que não havia no princípio, por criação de Deus, exista hoje por
criação do homem.
Na próxima conversa
vamos ver a importância da figura do Demônio na criação e formação das
religiões de matriz africana no Brasil e como isso também acabou por influenciar
a própria Umbanda.
Axé, que Oxalá nos
abençoe.
Teologia Comparada Parte 8.
Bom, viajamos quase 20.000 anos na história Xamanismo (sem
Deus), Hinduísmo (politeísta), Zoroastrismo (maniqueísta), Judaísmo
(monoteísta), Budismo (sem Deus), Cristianismo (monoteísta), Islamismo
(monoteísta). Todas ainda vivas e cultuadas em algum lugar do mundo. Todas elas
em algum momento foram ou ainda são religiões de imensa abrangência e alcance,
e por alguma razão acabaram sobrevivendo às outras, muitos panteões passaram a
fazer parte da história como o Grego, o Maia, o Asteca, o Nórdico, o Celta;
todos engolidos pelo cristianismo e o Egípcio engolido pelo Islam. Isso sem
falar nas centenas de religiões locais das diferentes tribos ao redor do mundo
desde os indígenas americanos aos aborígenes australianos; todas elas
cuidadosamente apagadas da história em nome de Deus ou de Allah.
Curiosamente, todas as guerras de cunho religioso, foram
promovidas ora pelo cristianismo ora pelo islamismo contra religiões
minoritárias ou entre si (vide Cruzadas), mas sempre como pano de fundo para
razões bem menos divinas e bem mais materiais. Sempre o fundamento era “levar
Deus”, mas a verdade era “trazer riquezas”, “conquistar territórios”,
“controlar rotas”, “ganhar poder”.
E finalmente chegamos ao período colonial, países como
Holanda, França, Espanha, Portugal e Inglaterra, (e os Reinos de Nápoles,
Gênova e Veneza que iriam compor a futura Itália) começam a se jogar ao mar em
busca de comércio, terras, fontes de riquezas. A África e a Ásia já eram
conhecidas, a América ainda não. O maior obstáculo na época era uma religião nova
chamada Islam, quase 600 anos depois do Cristianismo, o Islam saiu da Península
Arábica e disseminou-se pelo Oriente Médio com uma sanha conquistadora tão
furiosa quanto a de grupos atuais como o Taliban ou o Estado Islâmico. Em sua
Jihad eles invadiram todo o Oriente Médio, acabando com o Zoroastrismo e
empurrando seus poucos remanescentes para o Norte da Índia (politeísta e
consequentemente mais tolerante). Tendo conquistado todo o Crescente Fértil, a
antiga Mesopotâmia e o resto do Oriente
Médio berço do Judaísmo e do Cristianismo, onde hoje se encontram países como
Iran, Iraq, Síria, Líbano, Jordânia, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Turquia,
decidiram atravessar o Atlântico; Egito, Argélia, Marrocos, Líbia, Tunísia,
todos os que limitavam com o Mediterrâneo, e ainda tentaram invadir a Europa!!!
Bom só chegaram até o sul da Espanha onde foram parados pelo
Rei da França e pelos muitos Reis dos pequenos Reinos do Norte da Península
Ibérica que viriam a ser Espanha e Portugal, que convenceram os cristãos a
lutar e morrer para proteger o Caminho de Santiago, uma rota de Peregrinos que
vai da França até a Galícia (Noroeste da Espanha) onde acredita-se esteja
enterrado o apóstolo Tiago. Esta peregrinação permitia aos que a realizassem, a
concessão da entrada ao paraíso mediante o perdão automático de todos os
pecados...
Os árabes ficaram 800 anos na Espanha e sua expulsão e seu
espólio permitiram aos Reis de Castela e Aragão (Fernando e Isabel) financiar
seu expansionismo colonialista pelo mundo e principalmente para as Américas,
até que as próprias riquezas americanas começassem a financiar a coroa
espanhola.
Mas todas essas cabeças coroadas precisavam de uma desculpa
para invadir, escravizar e espoliar, um motivo para justificar os genocídios,
as violências. A Santa Madre Igreja entrou com a motivação. Combater o Demônio,
levar Deus, catequisar, cristianizar. E para que essa missão fosse santificada,
obviamente que a Igreja fez parte ativa deste processo, tanto nas Américas como
na África, obviamente que só na África subsaariana, porque a África
Mediterrânea já era domínio do Islam. E assim toda e qualquer divindade
encontrada na África ou nas Américas passaram a ser manifestações demoníacas.
Aqui estão estabelecidas as bases para a conjunção de fatos
que deram origem às diversas religiões brasileiras denominadas “de Matriz
Africana”.
·
Colonização da América
·
Necessidade de Mão de Obra para extrativismo e
posteriormente monoculturas.
·
Impossibilidade de escravização da população
local.
·
Chegada de Portugal à América
·
Tráfico Negreiro.
·
Movimento Expansionista Português em direção ao
centro do continente (Bandeiras)
·
Presença marcante da Igreja Católica, outrossim
menos Inquisidora que a Ibérica.
·
Esforço da Espiritualidade em manter a tradição
oral africana para os expatriados
o
Á medida que desencarnavam os sábios e
feiticeiros das tribos começam a se manifestar mediunicamente entre os escravos
no Brasil
o
A espiritualidade começa a se movimentar para
unir os escravos sob uma única religião.
Para
entender a importância das religiões de matriz africana no Brasil, necessário
se faz entender um pouco da história dos movimentos que trouxeram a própria
África para o Brasil. E para isso, como Nação termos que fazer um mea-culpa.
A
África compartilhava com a América do Sul a característica de povos chamados
primitivos, viviam em harmonia e pleno contato com a natureza, mas com baixos
níveis de desenvolvimento tecnológico (salvo as grandes nações Andinas aqui e a
Egípcia lá).
Um
aparte aqui, é que a escravidão não foi invento dos Europeus, ao contrário dos
indígenas brasileiros, que tinham uma convivência relativamente pacífica, os
diferentes povos africanos viviam em guerra e os vitoriosos vendiam os
perdedores como mão de obra escrava, em um primeiro momento para os invasores
islâmicos, e para os egípcios em geral, e os Europeus só se tornaram uma nova
opção de mercado.
A
chegada dos Europeus e a necessidade de mão de obra para as culturas
monoteístas e extrativistas, fez com que houvesse uma captura em massa,
primeiro dos indígenas para tal propósito. Em muitos casos utilizando o
catolicismo e passagens da própria Bíblia para justificar este ato, tirava-se
dos índios o direito á posse de seu solo, na imensa maioria das vezes ao uso de
sua linguagem, seus costumes etc. Mas isso se fazia muito difícil pois os
índios locais fugiam, se rebelavam, os que não fugiam morriam rapidamente, ou
adoeciam e se tornavam improdutivos. A solução africana então surge. Para
evitar rebeliões ou fugas em massa, já no outro continente, eram separados em
grupos de diferentes nações preferentemente rivais, de diferentes idiomas, para
que os indivíduos heterogêneos não criassem uma identidade de grupo. Os Negros
Muçulmanos que sabiam ler e sabiam matemática às vezes até medicina eram os
mais valorizados chamados de Mandingas, graças a seu desprezo pelos “infiéis”
eram escolhidos para ser seus vigias, e cuidadores.
Já na África eram despojados de suas
famílias, de sua terra, de seus costumes e principalmente de sua
liberdade. Em porões de navios escuros por semanas sem ver a luz do
sol, sem beber água fresca, comendo restos, vivendo entre as próprias fezes e
os ratos, misturados homens, mulheres, crianças, sofrendo todo tipo de
violência física e psicológica eram então despojados de sua dignidade.
Aqui
chegando recebiam um novo nome, neste momento eles eram despojados de suas
origens, de seus pais, avós, antepassados, despojados de sua herança cultural,
despojados de sua essência e ancestralidade.
Ao serem vendidos lhes era então
retirada a humanidade...
Já naquela época,
movimentos sociológicos e antropológicos incipientes entendiam que a única
forma de poder liberta-los seria dar a eles uma identidade comum, algo em que
acreditar, algo que os unisse.
Em
um movimento arquitetado pela espiritualidade maior, realizado por anti-escravagistas
em ambos os planos, começa-se a unir elementos das diversas religiões
politeístas da Mãe África para criar-se uma religião que trouxesse de volta
para os negros suas origens, que contasse suas histórias, que pudesse ir
oralmente de pai pra filho restituindo suas identidades, sua ancestralidade,
sua força. Cria-se então o Candomblé, que de tanta força que teve na união
desse povo tão maltratado, passou logo a ser perseguido e pra que continuasse a
ser cultuado, sincretizou-se com o catolicismo, de onde os Orixás encontram
seus equivalentes no Panteão dos Santos Católicos.
Infelizmente o ódio no coração dos irmãos
escravos acabou em muitos casos por desvirtuar a religião original,
influenciados por espíritos sedentos de vingança e guiados pelos degradados ora
chamados magos negros, o Candomblé acaba por desvirtuar-se de sua razão
original e em muitas casas (não todas, é claro) passa a instrumentalizar-se
para a prática do mal.
Já
em meados do século XIX o Kardecismo explodia na França e logo é trazido ao
Brasil. Curiosamente ele é tão bem aceito aqui graças à predisposição do
Brasileiro em aceitar essa interferência do além justamente pela
proximidade com os cultos africanos. Mas o Kardecismo foi introduzido no Brasil
por aqueles que podiam viajar para a França, para estudar, aqueles que falavam
Francês para ler as obras de Kardec, resumindo a nata da elite financeira e
intelectual do Brasil.
O
Kardecismo entra no Brasil pela porta da frente das mansões dos poderosos. E,
se bem sempre trouxesse em si o bojo da filosofia cristã do amor, da caridade,
da humildade, do eterno aprendizado e da interação entre encarnados e
desencarnados, encontrou aqui um obstáculo que na Europa não existia e por
tanto não fora previsto.
Imagina naquela época quantas vezes um irmão
de Kardec imbuído nos mais profundos valores de amor e caridade emprestando seu
psiquismo voluntariamente para a espiritualidade, não era confrontado pelo
espírito revoltado de um irmão negro que havia sofrido em suas mãos fosse em
atual encarnação, ou em encarnação recentemente vivida, ou por atos de
antepassados recentes. Qual não era a vergonha desse irmão espírita que mesmo
em grande esforço de humildade se via obrigado a enfrentar tal julgamento
diante de outros irmãos.
Um
misto de temor à exposição e vergonha, somado à natural revolta dessas almas
atormentadas dos escravos desencarnados e suas atitudes muitas vezes violentas;
o fato de que essas almas ainda no umbral presas a memórias de uma única vida
tinham pouca ou nenhuma instrução, começaram a ser vistos como espíritos sem
luz, inferiores, trevosos, e gradualmente começaram a ser banidos ou evitados
em reuniões mediúnicas. Milhões de seres na espiritualidade que quando na terra
tinham sido despojados de tudo, até de sua humanidade, ao chegar do outro lado
também acabavam encontrando portas fechadas.
Mais
uma vez a espiritualidade se mobilizou, esses irmãos precisavam de amparo,
precisavam de apoio, precisavam de alguém que lhes falasse de amor, de uma forma
simples, de modo que eles pudessem entender, sem tanta ciência e palavreado
incompreensível. Mais uma vez reúnem-se os Orixás entidades de muita luz
manifestando-se em formas e energias que fossem afins à sua crença simples,
espíritos que deviam ensinar por metáforas e exemplos para almas que não tinham
letras. E dentro de uma das mais simples casas Kardecistas, o Espírito do Padre
Jesuíta Gabriel Malagrida, nesta feita na forma e fala de um Índio de grande
força auto intitulado Caboclo das Sete Encruzilhadas, lança a pedra fundamental
da Umbanda segundo suas próprias palavras:
manifestou-se o Caboclo das
Sete Encruzilhadas, declarando que, naquele momento, se iniciava um
novo culto em que os espíritos dos velhos africanos, que haviam servido como escravos
e que, desencarnados, não encontravam campo de ação nos remanescentes das
seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para
trabalhos de feitiçaria,
e os índios nativos do Brasil poderiam trabalhar em benefício dos seus irmãos
encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. A
prática da caridade (amor
fraterno), seria a tônica desse culto, que teria como base o Evangelho de
Cristo e como mestre supremo, Jesus.
Após
estabelecer as normas em que se processaria o culto, deu-lhe também o nome,
anotado por um dos presentes como Alabanda, substituido por
Aumbanda, que em sânscrito pode
ser interpretada como "Deus ao nosso lado" ou "o lado
de Deus". O nome pelo qual se popularizaria, entretando, seria o
de Umbanda.
Depois outros humildes se
incorporariam a esta seara, boiadeiros, baianos, cangaceiros, marinheiros,
ciganos, crianças e aqueles que dispostos a ganhar luz, e resgatar profundo
erros para com a humanidade aceitam os trabalhos mais árduos nas trilhas mais
escuras da espiritualidade, os exus e pombas giras.
A Umbanda é a mais brasileira das religiões, e
assim como o Kardecismo tem a Jesus como seu mestre supremo e mentor maior, mas
ela conversa de forma mais simples com os mais pobres, os mais humildes, os
menos letrados; aqueles que às vezes estão tão embrutecidos que não conseguem
entender as palavras de uma prece, mas conseguem entender a luz de uma vela, o
cantar de um ponto o toque ancestral de um tambor. Fundir Kardec e a Umbanda é
quase uma necessidade dos dias de hoje. O melhor de dois mundos. Pois a
codificação do Kardecismo tem uma doutrina e um conhecimento científico
maravilhosos, e a Umbanda trás em si a tradição dos povos que formaram este
nosso imenso país. Uma lembrança de luta e de humildade, e acima de tudo um
exemplo único da capacidade de perdão e superação do ser humano em Cristo, pois
aqueles que um dia despojados de seu solo, de suas famílias, de seus
ancestrais, de sua dignidade, mostram que jamais foram despojados de sua
humanidade e hoje aqui estão, livres das correntes do rancor ou da vingança
cheios de amor libertador, com o peito aberto em um abraço espiritual para nos
ajudar; nos estendendo a mão.
Teologia Comparada Parte 9.
Antes de entrarmos nesta parte;
sugiro a cuidadosa leitura dos textos nos sites abaixo.
[...] "- Se julgam
atrasados estes espíritos dos pretos e dos índios, devo dizer que amanhã estarei em casa deste aparelho (o médium
Zélio), para dar início a um culto em que esses pretos e esses índios poderão
dar a sua mensagem, e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes
confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade
que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E, se
querem saber o meu nome, que seja este: Caboclo
das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim."
O médium vidente insistiu, com ironia: "-
Julga o irmão que alguém irá assistir ao seu culto?" Ao que a entidade
respondeu: "- Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando
o culto que amanhã iniciarei!" [...]
[...] Às 20 horas, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas,
declarando que, naquele momento, se iniciava um novo culto em que os espíritos
dos velhos africanos, que haviam servido como escravos e que, desencarnados,
não encontravam campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já
deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para trabalhos de feitiçaria, e os índios
nativos do Brasil poderiam trabalhar em benefício dos seus irmãos encarnados,
qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. A prática da caridade (amor fraterno), seria a
tônica desse culto, QUE TERIA COMO BASE O EVANGELHO DE CRISTO E COMO MESTRE
SUPREMO, JESUS [...]
(as maiúsculas na última frase são destaque do
autor deste artigo)
O objetivo destas MAIÚSCULAS é fazer uma
observação muito importante:
Ao contrário de todos os cultos
afro-brasileiros anteriores, com médiuns recebendo desencarnados ou Orixás, não
estamos mais falando de sincretismo; não se trata de encontrar semelhanças
entre Orixás e Santos Católicos para permitir o culto aos Orixás de forma
velada. A Umbanda ao ser criada se declara CRISTÃ, fundamentada no Evangelho de
Cristo.
Mas porquê isso é tão importante?
Porque naquele momento de sua criação a Umbanda
era uma religião mediúnica, de intercâmbio entre desencarnados (preferentemente
negros e índios) e de base cristã.
O Caboclo das Sete Encruzilhadas ao criar a
Umbanda, deu-lhe um Estatuto o Evangelho de Cristo. Alguns dirão que ao
mencionar Evangelho de Cristo o Caboclo e Ex-Jesuita não se referia aos
Evangelhos Católicos, mas isso nunca foi expressamente declarado pelo espírito
e por tanto é inferência.
Ao fazer isso, o fundador da Umbanda estabelece
como base dogmática da religião o Evangelho de Cristo, e consequentemente
individualiza as entidades cristãs dos Orixás, diferencia sem excluir ou
discriminar, mas deixa claro Jesus não é Oxalá. Para entender isto basta
comparar histórias sobre ambos.
Houve e ainda há muita gente ignorante tentando
“branquear” a Umbanda. Os sucessivos congressos sobre Umbanda tentaram de
muitas formas dar “nobreza” à religião; retirando-lhe as raízes africanas e
tentando estabelecer suas bases no Oriente ou até na própria Atlântida!!!
Alguns bem ou mal intencionadamente tentam codificar
a Umbanda. O que as décadas já provaram seria um erro, erro igual ao que deu
origem à própria Umbanda.
No engessamento ideológico do Kardecismo;
encontrou-se a necessidade da Umbanda, por tanto engessar a Umbanda ainda tão
jovem seria insensato. Lembremos que as principais religiões da terra, levaram
décadas ou até séculos para serem codificadas.
Outra coisa sobre as religiões codificadas é
que, no momento em que se codificam, criam imediatamente uma casta de
controladores, os escribas, que começam a se achar os únicos conhecedores da
religião, manifestações contrárias a seus interesses começam a ser tratadas
como heresia, feitiçaria etc. Este efeito aconteceu no Judaísmo, Islamismo e no
Cristianismo. No Hinduísmo curiosamente os maiores intérpretes da palavra
sagrada são os Brahmanes os que se auto-localizaram no ponto mais alto do
regime de Castas, e ainda por serem pessoas “sagradas” estão impedidos de
trabalhar e devem ser sustentados pelas outras castas, interessante que são os
mais ricos e são os principais defensores do sistema de Castas em nome de
Brahma (Deus Criador). Na Idade Média, a
razão da reforma protestante foi justamente retirar esse poder da Igreja
Católica, ao traduzir a Biblia do Latim, permitia-se que cada um fizesse sua
interpretação dos textos, seu próprio estudo, tirou-se o poder da Igreja então.
Toda tentativa de codificar a Umbanda, ainda
que seja visando a sua respeitabilidade e aceitação pode ser perigosa,
principalmente quando conduzida de forma individual por este ou aquele autor,
por mais estudado que seja. Vejam o caso da Igreja Católica, definhando diante
das mudanças sociais e impossibilitada de se renovar devido ao caráter
“sagrado” atribuído e imposto por séculos a muitas de suas escrituras, e que
poderiam ser facilmente ajustadas diante da visão pura e simples do Novo
Testamento que acolhe, não condena; que abraça não discrimina; que perdoa não
vinga.
Axé, que Oxalá nos abençoe a todos.
Teologia Comparada Parte 10.
Para podermos avançar no entendimento desta
parte devemos então fazer um resumo rápido de tudo que vimos até hoje. No
Oriente Médio o Judaísmo dá origem ao Cristianismo (Cristo era Judeu) e 500
anos após Maomé cria o Islamismo.
Ambas religiões Cristianismo e Islamismo herdam
do Zoroastrismo o conceito de forças opostas bem e mal, e acabam dando forma à
figura do Demônio.
O Cristianismo que, até então era só o
Catolicismo, se divide em Católico Apostólico Romano e Ortodoxo.
O Cristianismo em sua expansão acaba
incorporando em seu bojo diversas tradições de religiões pagãs antigas, como
celebrar o nascimento de Cristo na época do aniversário do Deus Sol ou Mithra
ou Brahma, além de outras alegorias. Toda e qualquer divindade pagã antiga que
não pudesse ser sincretizada, a exemplo das associações de divindades femininas
com a Virgem Maria, foi demonizada; como o Deus galhudo dos Celtas, a Serpente
dos Maias, o Deus Pan dos Gregos ou Exú dos africanos.
Ainda assim, a Umbanda propriamente dita criada
em Novembro de 1911 pelo Jovem Zelio foi formalmente declarada por seu criador
manifesto o Caboclo 7 Encruzilhadas como Cristã e seguidora do Evangelho de
Jesus Cristo.
É muito importante que façamos essa distinção
pois desde aquele momento, até os dias de hoje a Umbanda mudou muito adquiriu
novas características e recebeu novos fundamentos.
Nosso objetivo a partir deste estudo é entender
em primeiro lugar, como era a Umbanda criada por Zelio e o Caboclo 7
Encruzilhadas para comparar com o que praticamos hoje. Quais elementos foram
incorporados com o passar do tempo, de onde vieram, qual sua importância? Vamos
tirar o caráter supersticioso de alguns fundamentos e ir para suas origens.
Um exemplo se refere a uma tradição de algumas
casas que impedem mulheres no período menstrual de participar dos trabalhos.
Essa é uma tradição herdada do Candomblé. Houve razões para tanto e tais razões
demonstram que isso hoje pode ser necessário só em alguns casos. A razão
primordial era a questão de que o Terreiro é um solo sagrado e por tanto não se
pode derramar sangue humano nele; essa regra sugere que a espiritualidade já
antevia que algumas roças teriam filhos de povos inimigos e tentavam evitar uma
tragédia durante o transe mediúnico. Ao tornar o solo sagrado ninguém
afrontaria os Orixás. Naquele tempo havia poucas formas eficientes de conter o
sangramento periódico e na hora da dança as mulheres poderiam derramar sangue
no terreiro. Algumas casas permitiam que a mulher fizesse o atendimento desde
que sobre folhas de mamona ou bananeira, como modo de prevenir o derramamento.
Hoje os absorventes femininos são eficientes e permitem o trabalho sem esse
acontecimento, aí caberá ao sacerdote avaliar se a médium tem reais condições
para um trabalho prolongado em uma época em que seu desgaste é maior e seu
humor pode estar alterado.
Além disso, tentar compreender e explicar a
origem de diversos fundamentos da Umbanda, de onde vieram, porquê se realizam,
quais as raízes. Assim, poderemos não só entender, mas explicar e
consequentemente fazer respeitar essa jovem ancestral de todos nós a Umbanda.
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