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domingo, 11 de janeiro de 2015

Da Série Coletivos Capítulo 1 - Infinito enquanto durou...

Teria eu uns 19 anos talvez, Dos de hoje minha inocência me colocaria perto dos 16 talvez menos. Mas era isso uns 19 anos. Na época morava em São Paulo, Em um exílio familiar autoimposto, voltei para minha tão idealizada Pátria Mãe sem entender que meus problemas, temores, dificuldades, dúvidas, inseguranças, jamais ficariam retidos na alfândega. 

Mas que dizer aos 19 anos somos seres todo poderosos que subimos ao alto de montanhas para gritar nossas absolutas verdades (frágeis verdades) e se não aprendermos nada da vida, aos 40 estaremos no fundo de profundas cavernas ainda tentando protegê-las da tormentosa realidade. 

Porém eu tinha 19 ainda, e problemas, temores, dificuldades, dúvidas, inseguranças, eram irreconhecíveis, inaceitáveis e no máximo culpa dos outros...

Naquele tempo morava na Vila Mariana e estudava nas imediações da Avenida Paulista, meu companheiro de aventuras era o Jardim Miriam, em sua desagradável coloração marrom e azul, enfrentava as sinuosas e estreitas curvas do Paraíso para me levar ou trazer da faculdade. Eu achava que era o ônibus mais decadente, e deprimente desta nação, até tomar o 575, Terminal Bandeiras, Vereda dos Buritís, hoje a linha mais religiosa do Brasil pois todos nós passageiros percorremos os 18 minutos de seu trajeto na mais intensa oração para que essa barca velha chegue ao seu destino inteira... e que o presidente desta empresa de coletivos dependa desse carro especificamente quando seu coração estiver quase parando para chegar a algum hospital...

Mas voltando ao passado. foi um dia diferente, a sensação de irrealidade começou ao subir no coletivo, que se encontrava quase vazio, um quase vazio com rufar de tambores, e refestelar de sinos, pois nunca d'antes naquele horário, naquela época do ano (dias normais, nada de férias, feriados, greves ou passeatas), estivera assim vazio. A segunda sensação surreal foi a de subir a um coletivo em plena Paulista, e poder escolher um lugar para sentar. Fundão claro, (se esta merda explodir o motor está la na frente, se o freio falhar bate a frente primeiro). E me sentei, pude até abrir as pernas ao sentar!!! Estava no Paraíso... e nem me refiro ao Bairro, 

No ponto seguinte as coisa pareciam tomar um ar de normalidade uma imensidão de pessoas entrou no ônibus e os poucos lugares que permaneciam vazios foram ocupados, minha aura foi invadida por outras presenças e fui obrigado a recolher os pés, para decepção de meus genitais que voltaram a uma situação de aperto.

Preocupado já com a lotação do ônibus, minha visão periférica sentiu um sabor doce, e um aroma suave de romance invadiu os meus olhos, enquanto minha língua se arrepiava de prazer e um gosto forte de paixão invadiu de repente as palmas das minhas mãos ouvindo que minha nuca gritava os cabelos em pé ao perceber aquela imagem. De cabelos negros como só o contraste com o branco da pele é capaz de realizar, de lábios vermelhos como só o branco da pele é capaz de realizar, de olhos verdes como só o branco da pele é capaz de realizar e de dentes brancos como só o vermelho da boca é capaz de realizar, ela era tudo como só a perfeição da natureza em contraste com o amor adolescente é capaz de realizar, e então...

Com a certeza do nascer e do por do sol a cada dia, eu sei que já a amava, e apesar da boca seca e travada o olhar deu o necessário grito, que entrou pelos olhos dela e ressoou nos ouvidos dela que me respondeu em vermelho, vermelho das faces brancas que se encheram subitamente de mim, vermelho de uma boca que se abriu em um sorriso, suave, profundo, daqueles sorriso que invadem o rosto todo, tomando conta dos olhos. Naquele momento eu soube que ela também me amava, profundamente, infinitamente, e nossos olhos não se desgrudaram por um instante enquanto ela descia do ônibus, e ficava ali parada, me olhando e eu a ela, nos conhecíamos tanto, e entendíamos tanto um ao outro que ali naquele momento sabíamos que jamais voltaríamos a amar ninguém daquela forma, tão perfeita e intensa, nossas mãos se elevaram juntas em um aceno enquanto o ônibus partia comigo dentro selando nosso destino.

2 comentários:

  1. Ônibus, lotacao e seja lá qual nome ganhe. As situações de aperto sempre dialogam. E sempre é possível se 'apaixonar' por algouma coisa nessa viagem. É o que torna o 'inferno' mais confortável. Até que a viagem acaba.

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    1. Pois é principalmente quando vc não está subjugado pelas 4 polegadas da tela do celular.

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