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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Natal: Pra não dizer que não falei de Papai Noel...

E Deus nos fez à sua imagem e semelhança...

Como seria Deus então? Alto, Baixo, Gordo Magro? Oriental, Negro, Branco, Índio? Seria Homem? Mulher? Idoso ou Criança? Por séculos os homens vêm tentando entender e retratar a Deus, um velho barbado com o dedo estendido, um olho que nos olha de dentro de uma pirâmide? Talvez Deus seja o sorriso da criança que ganha presente, ou a lágrima da criança doente que luta para manter a infância diante de tanto sofrimento. Talvez Deus esteja no beijo dos que se amam, ou na mão do intolerante que espanca ou mata em Seu nome.

Deus seria o pombo que traz o ramo de oliva? Ou o Perú que comemos no Natal sem questionar de onde vem, como foi sacrificado, sem que nem oremos para agradecer por ele dar sua vida para nosso prazer?

Deus seria aquele homem de barba e cabelos longos que pregou o amor, a fé a tolerância e o perdão? Ou talvez aqueles apóstolos que vão pelos ônibus de Bíblia na mão investidos de uma divina autoridade de julgar e condenar a todos que não O seguem da mesma forma que o orador.
Deus seria aquela maravilhosa árvore no alto da colina de onde me detenho a ver a natureza ao meu redor florida, rica, cheia de pássaros e de criaturas? Ou aquele templo suntuoso construído com o sacrifício de pessoas que às vezes nem teto próprio tem?

Acho que Deus, na sua misericórdia e amor, apresenta-se para nós como desejamos vê-lo.  Nenhuma prece se perde, há quem ore para Allah, ou para Jeová, ou para Krishna, ou para Buda, ou para Oxalá, ou para Osíris, mas todas essas preces tem um único destinatário o Criador.

Zeus, Thor, Tupã, Xangô todos comandam o raio ou o trovão, todos representam ou representaram o castigo ou a justiça de Deus. Em seu momento cada um foi a imagem que os homens escolheram para cultuar a Deus. Deus já teve chifres, cabeça de animal, principalmente quando sobreviver era essencial, e comida era a única dádiva que se queria, então o bisão, o bode, o boi, eram Deus, pois alimentava e mantinha a vida.

Deus já foi uma mãe carinhosa e generosa que de seu ventre nos dava as sementes para que não nos faltasse o pão.

Hoje dependendo da necessidade arrecadatória de cada religião, Deus é mais ou menos vingativo, mais ou menos cruel, precisa ser comprado com mais ou menos dinheiro. Hoje Deus é motivo de guerra, de atentados, Deus é motivo de violência contra mulheres e crianças no Oriente, contra homossexuais no ocidente. Em tudo isso há Deus, porque afinal ele nos criou à sua imagem e semelhança.

Quando vai chegando o Natal, vemos cada vez mais “Bons Velhinhos no bom vermelho escolhido pela Coca Cola” cada vez mais substituindo a bela imagem do presépio. No desejo absurdo do capitalismo de transformar o Natal em uma festa universal e obviamente laica, que tenha um formato que possa chegar a todos os países, mesmo os não cristãos; troca-se a imagem do Dono da Festa, por uma neutra, quase beatífica, mas não Deificada, não religiosa.

E junto com o esquecimento do Dono da Festa, esquecem também os valores maiores que Ele veio para nos mostrar.

A festa deixa de ser um momento de união e reflexão em família, passa a ser uma corrida absurda para ver quem come mais, quem compra mais, quem gasta mais, quem dá os presentes mais caros. As pessoas deixam de ir aos seus templos de oração, igrejas, centros, e ficam em casa abusando de comida e bebida, esquecendo-se do verdadeiro motivo da celebração.

Imagino que se daqui a alguns milhares de anos algum arqueólogo resolva escavar neste planeta, talvez chegue à conclusão que no ápice de nossa evolução tecnológica e de nossa decadência moral nós cultuávamos uma figura divina de um Deus velho, barbudo, obeso e que distribuía riqueza material em vez de valores morais.  Que ao encontrar uns poucos e perdidos presépios dirá que havia uma religião minoritária, associada a uma divindade, que nasceu na pobreza, viveu sendo perseguido e morreu flagelado...

Mas Deus é mais do que isto. Deus é o dono desta e de todas as festas. Somos sim feitos à imagem e semelhança de Deus, seres perfectíveis, seres que melhoram a cada ciclo, a cada vida. Deus responde às nossas preces, no templo, na igreja, na sinagoga, na mesquita, na mata ou na encruzilhada. Deus nos concede o que pedimos, e também nos dá a bendita oportunidade de responder pelos resultados de nossos atos e preces. Deus é amor, caridade misericórdia, tolerância, perdão. Deus não é dar presentes é Ser Presente. Deus está no coração cheio de amor, não necessariamente na mesa cheia de comida. Deus está no abraço de quem se ama, não necessariamente nos infindáveis brindes de fim de ano. Deus está na alegria das crianças que recebem abraços, beijos e carinho, não necessariamente daqueles que acham que basta mandar o presente caro.


Este Ano, leve o presépio para dentro de casa, e tudo que ele representa, deixe o “bom velhinho” de fora, leve os valores que o Presépio representa e lembre-se que é na simplicidade que encontramos o Criador.

4 comentários:

  1. Gostei da prosicao reflexiva. Mas na. conclusao ao que pude perceber vc volta para a ideia de deus como entidade. Eu gosto da ideia da espiritualidade sem revencia religiosa ou cultural. Por isso nao utilizo a palavra deus ja a algum tempo. Mas gostei. Eh como digo algo deu errado no capitalismo.

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    1. Acho que nunca deixei de ver a Deus como entidade, mas pelo simples fato de que existe uma consciência, uma inteligência por trás da criação. Essa energia pensante sem forma, sem gênero, perfeita na medida em que mesmo a perfeição evolui. Mas acredito que nos dias de hoje, nos falta acima de tudo a moral simples pregada pelo Presépio, concordo que muito deu errado no mundo, mas culpar o capitalismo em sí, é como culpar o revólver pelo homicídio. A culpa não é deste ou daquele regime, mas sim da ambição que os conduz, a culpa é da ambição e egoísmos humanos que desvirtuariam quaisquer regimes ou intenções, que transformam qualquer ideologia literária em uma utopia prática pois não leva em consideração, o egoísmo, a preguiça, o autoritarismo, a ambição etc.

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  2. Muito bom! Além de escrever muito bem seus argumentos são ótimos. O Natal que vivo hoje não possui a mesma essência de quando eu era criança. O simbolismo da festa parece se perder cada ano mais com essa falta de amor ao próximo, com a hipocrisia. Lamentável. Mas ler coisas como essa nos faz refletir.

    Bjux, meu querido.

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