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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Da Série Coletivos Capítulo 3: Me respeite que eu sou bandido!!!!

Quando andar de ônibus em Goiânia, você sempre terá um choque de realidade. Andar de coletivo em Goiânia é ter uma amostra clara da ineficiência de absolutamente todos os sistemas nacionais em um só momento.

Educação em Casa: Ninguém respeita fila, passageiro não respeita o motorista e nem o motorista respeita o passageiro. Normalmente quando dou Bom Dia! ao motorista, ele me olha com cara de admiração como se a única coisa que ele pudesse esperar do passageiro é alguma interjeição em referência à sua mãe. Ninguém dá o lugar para quem precisa, e na maioria das vezes não respeita nem os assentos demarcados. Janela definitivamente é lixeira.

Educação no Trânsito: Não se respeita faixa de pedestres nem dentro dos terminais, semáforos são para os fracos e amarelo aqui significa ande mais rápido!!!

Fiscalização: Inexiste, a quase totalidade dos ônibus é ultrapassada, mal cuidada, barulhenta e acima de tudo porca.

Segurança: Inexiste, quem entra em um terminal achando que está protegido de alguma coisa, está totalmente enganado, a bandidagem faz arrastões sem dó nem piedade e, principalmente, sem punição.

Pontualidade: A palavra Pontual só se usa aqui na hora que a reclamação vira quebra quebra e os Mentirosos Concursados aparecem diante das câmeras de TV para dizer que o atraso naquela linha é um caso pontual. Mentira completa e deslavada nem os ônibus e muito menos os atrasos são pontuais, aliás nem sequer a incompetência é pontual ela é geral assim como a cegueira voluntária do governo que se nega a enxergar tudo isso vai $$$aber porquê....

E já que estamos falando de criminalidade, vamos falar da mendicância profissional, dia desses estava eu dentro de um ônibus da Metrobus de Goiânia, também conhecido como Eixão e que é visto pelo Governo do Estado como motivo de orgulho. Quando chove seu corredor exclusivo inunda totalmente por falta de escoamento e os coletivos bi e tri articulados passam levantando ondas dignas de um Gabriel Medina sobre passageiros e veículos que andam nas pistas laterias, vive absolutamente lotado praticamente o dia inteiro sendo que é quase impossível subir ou descer dele sem agredir alguém, nem sempre involuntariamente. 

Então, voltando ao assunto, estava eu dentro de um desses exemplos de competência e orgulho governamental quando um rapaz de uns 30 anos mais ou menos, pele judiada pelo sol, cabelos loiros emaranhados, segurando um boné nas mãos começa a contar uma triste história de que seria "portador de câncer" e que estava em Goiânia para fazer quimioterapia mas que não tinha dinheiro pra voltar pra sua cidade de Anápolis (a passagem para Anápolis custa menos de R$10,00) e que ele além de tudo estava com fome. 

Nesse exato momento, entrou no ônibus um sujeito maltrapilho, fedendo, cabelo totalmente desgrenhado visivelmente alterado por alguma droga; dirigiu-se à frente do ônibus e mandou que alguém se levantasse que ele queria sentar. A pessoa que se encontrava ali sentada, já programada e condicionada ao medo criado pela incompetência policial-judiciária-carcerária deste país, saiu dali correndo. Imediatamente após sentar-se o marginal mandou o pedinte calar a boca pois a conversa o estava incomodando.

Ato seguido o pedinte pareceu crescer uns 10 cms de altura, ergueu os ombros endireitou a postura e gritou "Cala a boca você preto fedido, você não sabe com quem tá falando. Eu sou bandido, você me respeita!!!!"

A porta se abriu e eu desci, mais uma vez, antes do meu ponto. Aquela frase gritava dentro dos meus ouvidos, e eu gritava contra aquela frase: Não!!!! Eu não te respeito!!! Mas esse grito ficou trancado na minha garganta, assim como todos os outros; o grito que eu queria dar contra quem fura a fila, o grito que eu queria dar contra o motorista que quase me atropela na faixa de pedestres, o grito que eu queria dar contra o ônibus que atrasa, o grito que eu queria dar contra o desconforto, o calor, a sujeira e o barulho dentro do ônibus, o grito que eu queria dar contra o ladrão que rouba no terminal e dentro do ônibus, o grito que eu queria dar contra a policia que não chega, a justiça que não prende. O grito ficou aqui preso, aliás a única coisa que ainda fica presa neste país é o grito de desespero dos justos e dos inocentes... 

O bandido, tem direito a três refeiçoes, e até salário. O bandido tem direito a progressão de pena, visita íntima, banho de sol, saída de Natal, indulto, não precisa trabalhar e nem muito menos ressarcir o Estado do custo da sua reabilitação. O bandido tem direito a ampla defesa e tratamento humanizado. O bandido tem direito a advogado gratuito oferecido pelo Estado, cujo salário nós pagamos com nossos impostos.

E assim, enquanto mais esse grito descia queimando pela minha garganta para compor minha gastrite, eu percebi que naquele comando do pedinte, orgulhosamente autopromovido a bandido, estavam embutidas décadas de árduo trabalho dos Legi$ladores Brasileiro$ para a proteção dos criminosos e a opressão dos humanos direitos, falsamente usando a bandeira dos direitos humanos. 

Nosso governo, com certeza, respeita o bandido e muito mais que o cidadão honesto que paga caro o salário dos governantes... Porquê $$$erá?


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